Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é, ou quais são, na vossa opinião, as formas de tratamento aceitáveis de um aluno em relação a um prof.?

Será que no 3.º ciclo e ensino secundário, em alguma situação, um aluno se pode dirigir a um Professor, tratando-o por você?

Resposta:

Em Portugal, atendendo aos preceitos de gramáticas tradicionais, considera-se desadequada a forma de tratamento você na situação em que um aluno se dirige ao professor.

CfPronomes de Tratamento + Protocolo: Tu, Você, Senhor... + Pronomes de tratamento + Quão cortês é você? O pronome de tratamento vocês em Português Europeu + 98 pronomes de tratamento + Emprego dos pronomes de tratamento + Formas de Tratamento e Endereçamento

Pergunta:

Sou professora de Português e surgiu-me uma dúvida. Estou a trabalhar com o processo de formação de palavras e não estou suficientemente certa de como classificar luso: é um radical, ou uma palavra?

No dicionário da Porto Editora, surgem duas entradas: «luso, adj., n. m. lusitano; português; lusíada…» e «luso-, elemento de formação de palavras que exprime a ideia de lusitano, português»...

Em diferentes gramáticas, já vi tratado como radical e como palavra, porém convém ter certezas absolutas, dado que a classificação do processo de formação de lusodescendente e de luso-brasileiro (composto morfológico ou morfossintático) está condicionada pela classificação que fizermos de luso: radical ou palavra.

Resposta:

A forma luso em lusodescendente e luso-brasileiro é um radical, visto ser considerada forma curta de lusitano, na aceção de «relativo a Portugal» (cf. Dicionário Houaiss).

Pergunta:

a) Gostaria de saber qual a classificação morfológica do o que se aglutina à preposição de em «A mulher é mais tolhida socialmente do que o homem».

b) A expressão «os pronomes substantivo interrogativo» está assim grafada em uma apostila para concurso. É correta essa concordância? Isso se dá pelo fato de «substantivo interrogativo» estar especificando «pronomes»?

Resposta:

a) Não existe classificação especial para designar o o associado a de na conjunção «do que», que é forma alternativa de que, conjunção subordinativa comparativa, em correlação com os advérbios mais ou menos da oração principal (ver Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 326):

1. «Ele é mais alto do que ela.»

2. «Ele tem menos dinheiro do que ela.»

A análise sintática tradicional e a descrição linguística recente interpretam sempre sequências como «do que ela» como orações subordinadas adverbiais comparativas com omissão (elipse) do verbo.

b) Pronome substantivo é termo pertencente à Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959.1 Sendo assim, no plural dever escrever-se «pronomes substantivos», que podem ser «interrogativos», «possessivos», «demonstrativos», etc. Diga-se, portanto, «pronomes substantivos interrogativos», que é o plural de «pronome substantivo interrogativo».

1 O Dicionário Houaiss define pronome substantivo assim: «o pronome que nunca se usa junto a um nome, e, sim, sempre substituindo-o, podendo ser demonstrativo, ind...

Pergunta:

Tenho uma dúvida e, se possível, gostaria que me ajudassem. Sei que, em passivas pronominais (como «vendem-se casas»), o verbo deve aparecer flexionado para concordar com o sujeito paciente plural. No entanto, deparei-me com duas frases que me deixaram em dúvida:

«Confeccionam-se: roupinhas de tricô para cachorros.» 

As duas frases estariam de acordo com a gramática tradicional? A presença dos dois-pontos modifica alguma coisa?

Resposta:

Não vejo que os dois-pontos modifiquem alguma coisa na relação entre a passiva pronominal e a expressão nominal que tem a função de sujeito. Por isso, dirá e escreverá «confecionam-se» e «vendem-se», se interpretar se como partícula apassivante ou apassivadora.

Recordo que, atualmente, as gramáticas aceitam também que se seja um sujeito indeterminado (cf. sujeito, subdomínio B.4.2. Funções sintáticas, do Dicionário Terminológico, em vigor em Portugal). Nesse caso, os verbos não têm de concordar com as expressões nominais a que se referem: «confeciona-se: roupinhas...»; «vende-se: pão de queijo, café...»

Pergunta:

Tromelgo, ou Tremelgo (Parque do Tromelgo – Marinha Grande)?

Resposta:

Não tendo confirmação de dicionários etimológicos ou corográficos, verifico que a forma que se encontra registada em páginas relativas à localidade portuguesa da Marinha Grande é Tremelgo. Este topónimo também existe no Algarve, no concelho de Alcoutim. José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, acolhe os nomes Tramelgas (Casal das Tramelgas, em Avis, Portalegre) e Tremelgo, que ele localiza em Alcoutim e na Figueira da Foz. Contudo, no concelho da Figueira da Foz, a forma que atualmente ocorre em páginas da Internet é Tromelgo.

Tomando em linha de conta a possibilidade de Tramelgas corresponder a uma alteração de tremelga, que é o nome de um peixe (cf. José Pedro Machado, op. cit. e Grande Dicionário da Língua Portuguesa), é de sugerir que a forma correta do Tremelgo da Marinha tenha também um e. Cabe, no entanto, referir que, em matéria de toponímia, são constantes as alterações fonéticas consolidadas que muitas vezes vão contra o que se pode esperar da sua etimologia, o que explica que se hajam fixado formas como Tramelgas e Tromelgo.