Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se o o de colite se pronuncia aberto ou fechado.

Obrigada.

Resposta:

Em português europeu, pronuncia-se com ó aberto, apesar de a vogal se encontrar em sílaba átona pré-tónica: [kɔˈlitɨ] (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).

Em português do Brasil, o registo sonoro disponível no Aulete Digital parece mostrar um ó fechado nessa posição.

Pergunta:

Já percorri todas as vossas entradas sobre este assunto e consultei prontuários e gramáticas, mas a minha dúvida persiste: os nomes das línguas podem ser grafados com maiúsculas?

Se seguirmos a resposta de Rui Ramos de 17/01/2003, que encontramos também nos manuais referidos, só poderemos identificar a língua com maiúscula se for considerada um disciplina de estudo? (Ex.: Fazer os trabalhos de Inglês). Mas, e o dicionário de Inglês? E falar Inglês (ou qualquer outra língua, claro) ou traduzir do Inglês/Francês/Italiano para Português?

Estarei a ser influenciada pelas maiúsculas dos gentílicos ingleses?

Penso que a identificação da língua como tal justifica o uso do nome próprio, mas agradecia a vossa opinião.

Obrigada.

Resposta:

O Acordo Ortográfico de 1990 é omisso sobre o usos de maiúscula inicial nos substantivos referentes a línguas, mas admite que certas áreas do saber possam criar certas normas específicas das respectivas actividades:

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.

O critério que se depreendia do que Rebelo Gonçalves observava no Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, pág. 129) era o de que tais designações tinham inicial minúscula, a não ser quando eram usadas para referir disciplinas escolares:

[...] As palavras que designam línguas (latim, grego, português, etc.), quando servem de título a disciplinas, ficam, evidentemente abrangidas pela norma anterior: F. é aluno da cadeira de Latim; seguiu um curso de Grego; teve boas notas em Português.

Sucede, porém, que em muitas publicações se mostra preferência pelo uso da maiúscula inicial nos substantivos em apreço.

Pergunta:

Trabalho em uma empresa de artefatos de madeira, e temos uma dúvida que não encontramos em nenhum dicionário. Um dos processos de produção é aplicar uma massa específica para madeira, para cobrir pequenos furos ou pequenas imperfeições da peça de madeira, minha dúvida é qual o termo correto para a aplicação dessa massa, massear, massiar ou outro termo.

Se vocês puderem tirar essa minha dúvida, ficarei muito grato.

Resposta:

No Dicionário Houaiss, regista-se o verbo emassar, «revestir com massa», «colocar massa de vidraceiro em; emassilhar». Este parece, aliás, o verbo adequado, porque ocorre numa página em português do Brasil, dedicada ao tratamento de móveis de madeira (sublinahdo meu):

LAQUEAÇÃO – laquear é pintar os móveis, esconder os poros e veios da madeira. Recomenda-se, além do lixamento perfeito, emassar os defeitos com massa para madeira. Em caso de grandes defeitos, deve-se emassar 3 ou 4 vezes se necessário, pois a massa cede dentro do buraco.

Pergunta:

Gostaria de começar por agradecer o excelente trabalho que fazem, pois ajuda-me e muito a esclarecer algumas dúvidas que tenho quanto a termos em inglês ou mesmo na nossa língua portuguesa.

Agora tenho um pequeno problema, estou a traduzir algo mas não sei como pôr os termos softcopy e hardcopy, se é que têm alguma tradução para português.

A frase em si é: «Get a fact sheet put together and hand in both soft copy and hard copies.»

Não consigo encontrar em parte alguma do site softcopy ou hardcopy.

Desde já agradeço a vossa atenção e ajuda.

Continuem a fazer o excelente trabalho que fazem.

Resposta:

Em nome do Ciberduvidas, agradeço as palavras inciais.

O termo hardcopy é maioritariamente traduzido por «cópia impressa» no sítio Linguee, que não acolhe traduções de softcopy. Esta palavra, no entanto, encontra vários equivalentes em documentos disponíveis na Internet: «cópia digital», «cópia em formato digital», «cópia em suporte digital». Todas estas expressões estão correctas em português e são adequadas à designação do tipo de documento em causa.

Pergunta:

Desde há algum tempo procuro compreender a etimologia da palavra homocedástico.

Encontrei no Ciber a entrada 5268, a qual não responde à minha dúvida, uma vez que aborda apenas o assunto na perspectiva da grafia correcta do pref. grego homo.

Ora, a minha dúvida vai para além desse aspecto e respeita à etimologia da palavra. Como se formou? De homo + ceda + ástico? De homo + cesdaste + ico? Em todo o caso, causa-me estranheza e não imagino qual possa ser a forma da palavra primitiva que está na base da formação.

Os meus agradecimentos.

Resposta:

A palavra está registada no Dicionário Houaiss como homoscedástico, «que apresenta a mesma variação ou dispersão; que tem a mesma variância», termo que provém do «ing[lês] homoscedastic, "que tem padrão igual de variações estatísticas", do gr. homós, ê, ón, "semelhante, igual" + gr[ego] tar[dio] skedastikós, "capaz de espalhar" < skedastós, ê, ón, "capaz de ser espalhado, dispersado" < v[erbo] gr[ego] skedázó ou skedánnumi, "espalhar, dispersar"».

Dir-se-ia, portanto, que a forma homocedástico está incorrecta. Não é bem assim que acontece, porque, tratando-se de palavra de origem grega, é necessário atender a certos critérios na passagem ao português. Com efeito, em M. ª Helena T. C. Ureña Prieto et al., Do Grego e do Latim ao Português (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, 1995, p. 70), estipula-se que nos casos «[...] em que o grupo σκ- vem seguido de ε, η, ι ou υ [...], verifica-se a queda do σ inicial em português.

σκεπτικóς    *scepticus     céptico

Σκηνή          scena          cena

Σκύθαι &#x...