Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
404K

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber a origem dos sobrenomes Nunes e Santos.

Resposta:

O apelido Nunes tem origem no patronímico de Nuno, de origem obscura, segundo José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.

Sobre Santos, diz Machado (op. cit.):

«[apelido] de origem religiosa, pois foi abrev[iatura] de Todos-os-Santos. Dava-se primitivamente às crianças nascidas no dia 1-XI [...]. Creio, no entanto, que na grande maioria dos casos a vulgarização deste apel[ido]se ficou a dever aos que, ao entrarem pelo baptismo na religião cristã, tinham como padrinhos religiosos em cujo nome eclesiástico havia dos Santos. [...]»

Pergunta:

Estou com dificuldade em explicar estes dois conceitos: radical e forma de base. Poderiam ajudar-me?

Resposta:

Apresento as definições constantes do Dicionário Terminológico:

Radical

«Constituinte morfológico que contém o significado lexical e exclui os afixos flexionais. O radical pode conter afixos derivacionais. Os radicais pertencem a categorias sintácticas, sendo identificados por etiquetas como: radical adjectival, radical adverbial, radical nominal, radical verbal.

«Notas: O radical da palavra [casa] é o constituinte [cas].»

Base

«Constituinte morfológico, que inclui obrigatoriamente um radical, a partir do qual se formam novas palavras.

«Exemplos: "doc-" é a base para "adoçar"; "adoça-" é a base para "adoçante".»

Pergunta:

Eu gostaria de saber a origem do meu nome.

Obrigado.

Resposta:

Cito o artigo de José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa:

«Deve ter começado por ser adaptação do it. Americo, ao lado do hoje mais frequente Amerigo, ou talvez, antes, do fr. meridional Aimeric, Aymeric. [...] A origem das referidas formas it[aliana] e fr[ancesa] está no germânico amala + rich [...] com latinização em Emericus. [...]»

Sobre Amalarico, que tem a mesma etimologia que Américo, Machado (op. cit.) cita o filólogo português José Joaquim Nunes:

«Segundo Nunes [...], de "proveniência germânica que quer dizer: príncipe (-rico de rich) laborioso (amala, cf. Amália, etc.) [...]".»

Pergunta:

Estava à procura da origem do nome da localidade de Azagães. Encontro, por exemplo, nas Lendas e Narrativas o termo "zagaes". Também o encontro noutros documentos. Qual o seu significado?

Resposta:

Não posso confirmar a relação proposta entre Azagães (Carregosa, Oliveira de Azeméis, Aveiro) e zagais, plural de zagal, «pastor» (a forma zagaes é grafia antiga). José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa:

«Talvez genitivo de um antr. Saggo (origem germânica?), isto é, de "Saggonis (villa)"».

Muito pouco acrescenta A. de Almeida Fernandes, em Toponímia Portuguesa: Exame a Dicionário (Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999), o qual se refere à etimologia de Machado em tom acusatório:

«Exactamente copiado do meu artigo GE-39 [Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira], p. 257. Em 1251, temos Zagaes (e a variante Zigaes por lapso), certamente -ães, o que não condiz, com o z- com o étimo que apresentei e o autor [Machado] aceitou, ou até chamou seu. Parece que temos, pois, de admitir um n. pessoal *Zag(g)a, já que a forma actual parece uma estrutura simples (tal como a forma antiga) e é prostética.»

Pergunta:

Considerem a seguinte frase:

«Trata-se da dúvida se seria ou não bom fazer isso.»

Seria uma conjunção integrante a segunda partícula se dessa frase?

Obrigado.

Resposta:

Tradicionalmente, em português, a conjunção se não pode introduzir uma completiva de um nome. A construção mais correcta será, por exemplo:

«Trata-se da dúvida acerca da oportunidade de fazer isso»

ou

«Trata-se de saber se seria bom, ou não, fazer isso.»

A construção «dúvida se» parece decalque de construções em inglês, as quais permitem que um nome seleccione uma oração completiva introduziada por if ou whether, que se traduzem por se:

«it raises the doubt/question whether...»