Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Chamo-me Natallia, sou de Minsk, Bielorrússia.

Queria saber se o nome do meu país — República da Bielorrússia — é considerado oficial nos países de expressão portuguesa. É que Bielorrússia é uma transcrição em russo do nome antigo do país (Белоруссия) que foi usado nos tempos da União Soviética (antes de 1991). Em 19 de Setembro 1991, o país informou a Organização das Nações Unidas de que a partir deste dia o nome oficial seria Belarus. Neste âmbito, queria perguntar se será correto utilizar o nome a República de Belarus e o adjetivo pátrio "belarusso". Agradeço muito a sua bondosa atenção e assistência.

Resposta:

Em relação ao português europeu, regista-se Bielorrússia no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Porto Editora. Para a variedade brasileira, o VOLP da Academia Brasileira de Letras regista igualmente bielorrusso, donde se infere a grafia do nome do país, Bielorrússsia; bielorrusso é também as forma que a edição de 2009 do Dicionário Houaiss apresenta, a par de Bielorrússia que ocorre na definição que consta no verbete correspondente.* No entanto, a versão portuguesa do Código de Redacção Interinstitucional da Comissão Europeia admite a forma República de Belarus para efeitos protocolares, ao mesmo tempo que indica Republica da Bielorrússia como nome oficial.

Atenção, que nunca se acolhe a forma "belarusso". As fontes referidas só elencam a forma bielorrusso.

Parece-me de concluir que a forma Belarus se usa, pelo menos, em português europeu, só por imperativos diplomáticos e protocolares. Caso contrário, nessa variedade aplica-se a designação (República da) Bielorrússia.

* A versão impressa, publicada em 2009, grafa "bielo-russo", mas o Encarte com as correções e aditamentos do VOLP, que surgiu posteriormente, corrige esta forma para a fixar definitivamente como bielorrusso.

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Pergunta:

Estou a fazer uma dissertação e preciso de usar o termo "remanufactura". Ou seja, preciso de referir o facto de manufacturar outra vez, manufacturar componentes já manufacturados, ou seja, uma reutilização por parte das fábricas.

Gostaria de saber qual a maneira mais correcta a utilizar:

1 - "remanufactura";

2- "re-manufactura".

Gostaria de saber também se o "c" permanece ou não na palavra.

Obrigado.

Resposta:

À luz do Acordo Ortográfico de 1990, a palavra tem a forma remanufatura.

Seguindo o Acordo Ortográfico de 1945, única norma ortográfica em Portugal até Maio de 2009, a palavra deverá escrever-se remanufactura. Note-se que as palavras prefixadas por re- não têm hífen; mesmo que a palavra-base comece por h, suprime-se esta letra; por exemplo: reaver, reabilitar, reabituar, reidratar.

Pergunta:

Houve uma época em que a palavra questão era ortograficamente aceita com a grafia "questã"? Caso afirmativo, quando sofreu a alteração?

Resposta:

Efectivamente, a palavra questão aparece muitas vezes escrita como questã ou questam, mas isso não é indício directo de que ela se tenha pronunciado [kestɐ̃], porque é provável que desde o século XV ela se pronunciasse com o ditongo ão. A grafia em causa ocorre até bastante tarde, até ao século XIX, em documentos impressos e manuscritos. Note ainda que ainda hoje se usa -am para representar o ditongo em referência nas sílabas finais átonas da flexão verbal (p. ex., cantam, cantaram, cantavam).

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o aumentativo de jacaré.

Obrigada.

Resposta:

Já muitas vezes temos dito no Ciberdúvidas que muitos substantivos só pontualmente têm aumentativo, ou seja, não existe fixada ou dicionarizada uma palavra que se possa dizer que é O aumentativo de outra. É o caso de jacaré, que não possui aumentativo fixado pela tradição ou pelo uso mais recente. Deste modo, segue-se a regra de formação do aumentativo, que, dada a configuração morfológica de jacaré, se deve associar ao sufixo -zão; donde, jacarezão.

Pergunta:

Gostava de saber qual das seguintes frases está correcta:

1. «Os ingleses eram muitos mais do que os franceses.»

2. «Os ingleses eram muito mais do que os franceses.»

Muito obrigada.

Resposta:

As duas formas estão corretas, mas têm estruturas diferentes:

1. «Os ingleses eram muitos mais do que os franceses.»

2. Os ingleses eram muito mais do que os franceses.

Em 1, temos a concordância de muito, o que indica que este se deve interpretar como pronome indefinido; este é modificado por um advérbio de quantidade, mais, com o qual constitui um grupo sintáctico com a função de predicativo do sujeito.

Em 2, o predicativo do sujeito é constituído por «muito mais», ou seja, pelo advérbio mais modificado por outro advérbio, muito. Note-se que, em 2, é também possível classificar mais como um pronome indefinido invariável (cf. Dicionário Houaiss).