Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostava, se possível, de saber a etimologia do apelido Mota, a sua origem e o seu brasão.

Obrigado.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), Mota é apelido atestado desde o século XIV, com origem no topónimo Mota, por sua vez, evolução do germânico motta, «"monte de terra", elevação natural ou artificial onde por vezes se construíam castelos».

A Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura (1972), que confirma a génese portuguesa do nome, dá informação sobre os brasões a ele associados:

«Apelido de origem port[uguesa]. O 1.º que conhecemos é Ruy Gomes de Gundar, chamado o M[ota], por ter residência no solar da M[ota]. Parece que este solar era nas margens do rio Ave, nas terras de Lanhoso. Muitos autores fazem sugestões sobre o local onde foi construído este solar: na Quinta da Mota, na freg[uesia] de S. Miguel de Fervença, no conc[elho] de Celorico de Basto; ou na freg[uesia] de S. Martinho de Campo, no mesmo conc[elho], ou em S. Miguel de Travanca, o con[celho] referido, ou ainda em Chã, Gestaçô, próximo de Gundar. O marquês de Montebelo em nota ao L[ivro de] L[inhagens] – 4 [Nobiliário do Conde D. Pedro] diz que o solar era nas terras de Lanhoso, junto do rio Ave, sem dar mais elementos de informação. Ruy Gomes de Gundar, chamado [..] o Mota, era casado com D. Mayor Afonso, filha de Afonso Sanches Maravilha, e de sua mulher D. Teresa Roiz Moreira. Era bisneto de um ... valeroso e muito honrado cavaleiro (sic) ..., que acompanhou na sua vinda para Portugal o conde D. Henrique, pai do 1.º rei de Portugal, a quem serviu lealmente. Foi em cavaleiro D. Mem de Gundar, natural das Astúrias, que faz em Telões. Era casado com D. Goda, que nasceu na Galiza. Desta fam[ília], dizem as crónicas, houve geração que continuou o apelido. As armas d...

Pergunta:

Apesar de ter já efectuado alguma pesquisa, não consigo encontrar uma regra de pontuação específica a aplicar nas legendas de imagens. Seja em trabalhos, livros ou outros, ao legendarmos uma determinada imagem, deveremos colocar pontuação se a nossa legenda for um texto e não pontuar se se tratar de um título ou uma descrição breve da imagem (ex.: nomes de pessoas, lugares, etc.)? No caso específico de termos de descrever, por exemplo, a posição das pessoas numa imagem (ex.: da esquerda para a direita, aninhados, em pé, etc.), deveremos colocar ponto final?

Resposta:

A prática que pude observar em várias obras parece resumir-se a duas grandes tendências:

1. A legenda é constituída apenas por um nome ou uma sequência curta de palavras que descrevem uma imagem. Não há ponto final, embora seja possível encontrar dois-pontos e travessão no interior da sequência; p. ex.:

«Teatro de São João (1909) — Marques da Silva» (José-Augusto França, A Arte em Portugal no Século XIX, volume II, Lisboa, Bertrand Editora, 1990, pág. 165.)

2. Há legendas com certa extensão, constituídas por várias frases, nas quais se usa a pontuação como em qualquer outro texto; p. ex.:

«Em baixo, Costa Pinheiro, D. João III, 1966, Pintura (col. Manuel de Brito). As ondas do mar, em baixo, representadas com linhas tensas, adquirem características ornamentais.» (Rui Mário Gonçalves, A Arte Portuguesa do Século XX, Lisboa, Círculo de Leitores, 1988, pág. 22.)

Pergunta:

Qual a origem da expressão copo d´água para designar a festa do casamento?

Resposta:

Trata-se de um composto hifenizado: copo-d´água (ver Edite Estrela et al., Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Subtilezas da Língua Portuguesa (Lisboa, D. Quixote, 2010). O Dicionário Houaiss, regista copo-d´água com dois significados:

a) no Brasil, «pequena reunião com doces, bebidas etc., oferecida por amigos, para homenagear alguém»;

b) em Portugal, «festa de casamento ou batizado»

Note-se que, no século XIX, a palavra estava registada com o significado a) no dicionário de Domingos Vieira (Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza, 1873; ortografia original):

«Dar um cópo d´água, dar uma pequena refeição, merenda de dôces, etc.»

A palavra terá, portanto, aparecido como designação de comida ligeira, não sei se por metáfora («tão ligeira como um copo de água»). Fica feita a sugestão etimológica, muito embora não conheça fontes que esclareçam de forma fundamentada a origem do termo.

 

Cf. «Copo de água» é erro de português?

Pergunta:

A frase «Será uma competição com o objetivo de incentivar o estudo e despertar o interesse» está correta?

Me parece estranho que objetivo esteja no singular, já que apresento dois objetivos.

Resposta:

Tem duas opções:

a) atendendo ao facto de, em certos contextos (p. ex., na planificação da actividade pedagógica), cada objectivo ser definido por uma sequência iniciada por um infinitivo (incentivar, despertar, estimular, etc.), deverá escrever-se «os objectivos de incentivar o estudo e despertar o interesse»;

b) no entanto, a expressão «com o objectivo de», tal como «com a finalidade de», ocorre praticamente como expressão fixa, o que permite usá-la sempre no singular, mesmo seguida de um complemento complexo como «incentivar o estudo e despertar o interesse».

Pergunta:

Que expressão se esconde por detrás do que parece ser o acrónimo GALP? Não consegui encontrá-la em lado nenhum.

Resposta:

Sem fontes que o confirmem, sugiro que Galp (só com maiúscula inicial) é uma designação comercial criada com base na terminação -gal do nome próprio Portugal e no p de petróleo. Considero que, em vez de acrónimo, se trata de um nome inventado que alude, pela sonoridade, à terminação do nome Portugal. Para conhecer a história da empresa petrolífera portuguesa Galp, consulte o respectivo sítio.