Pergunta:
A gramática Amini Boainain Hauy, no livro Da necessidade de uma gramática-padrão da língua portuguesa (1983), diz que «os verbos que contêm passividade , como levar, sofrer e receber consideram-se neutros: Ele levou uma surra. Ele sofreu uma punição» (pág. 181).
Nas frases abaixo :
A) A ambulância levou Marcos.
B) Marcos foi levado pela ambulância.
A frase A está na voz ativa e a frase B na voz neutra?
Grato pela resposta .
Resposta:
O termo verbo neutro não parece ter grande difusão na descrição gramatical mais recente, especializada ou não, pelo menos a avaliar pela sua ausência em algumas gramáticas publicadas nos últimos 40 anos1. No entanto, foi usado por Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998), que na sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa (13.ª edição, 1961, p. 190), o define assim (manteve-se a grafia original):
«Verbo neutro: [...] há casos em que o sujeito não pratica nem recebe a ação expressa pelo verbo, por não indicar êste ação alguma. Assim, quando dizemos: "O cozinheiro é bom" – o sujeito cozinheiro não pratica nem recebe nenhuma ação. Indicamos, assim falando, um estado (ou conseqüência de uma ação) , e o sujeito, com tais verbos, não é nem agente nem paciente.
Outros verbos neutros : estar, ficar, permanecer.
Nota – Os verbos neutros são os mesmos verbos de ligação; chamam-se de ligação enquanto considerados quanto à predicação [e] chamam- se neutros enquanto considerados quanto à voz.»
À luz desta definição, parece, portanto, que sofrer e receber não são verbos de ligação, e levar tampouco o é em nenhuma das situações em questão, a saber, «levar uma surra», «a ambulância levou Marcos» e «Marcos foi levado pela ambulância». Sendo assim, também não serão verbos neutros.
Não obstante, a linguista basileira Amini Boainain Hauy, como bem assinala o consulente, refere a possibilidade de classificar os verbos levar, sofrer e receber como verbos neutros. Mas é de notar que essa observação está enquadrada pela crítica da...