Pergunta:
Antes de nada gostaria de dar os parabéns e agradecer a existência desta página maravilhosa das Ciberdúvidas. Eu moro na Galiza e falo galego, mas no seu momento escolhim para a minha língua a opção ortográfica galego-portuguesa e por isso não é estranho que gaste as horas lendo aqui.
Em geral as palavras nas duas beiras do Minho são iguais ou muito parecidas. Mas às vezes alguma delas só está num dos territórios... O caso é que reparei hai pouco que no galego mais enxebre usamos a palavra dedas para falarmos dos dedos dos pés, mas não achei esta forma nos dicionários portugueses.
Gostaria de saber se esta forma é conhecida fora da Galiza, na língua portuguesa, bem como forma dialectal ou histórica ou se consta no registo popular. É uma palavra curiosa, também não sei bem a origem dela, se tem paralelismos noutras línguas românicas ou se parte duma analogia...
Obrigado e saudações desde o confinamento aqui no norte do norte.
N. E. (24/04/2020) – Mantiveram-se a morfologia (hai, escolhim), as palavras (enxebre = «puro, autêntico») e a fraseologia (no seu momento = «a certa altura») galegas, incluindo a construção «desde o confinamento», que, em português, não se recomenda.
Resposta:
Com agradecimentos pelas palavras iniciais do consulente, é também com apreço que se regista aqui a sua dedicação ao galego e ao português.
Nas fontes consultadas para elaboração desta resposta, não foi possível achar registo do uso de deda, «dedo do pé», em Portugal, nem mesmo em âmbitos regionais. Trata-se muito provavelmente de uma criação exclusivamente galega, que resulta de uma derivação de dedo, num processo que se apoia no contraste de género morfológico entre os índices temáticos -o e -a em pares como carvalho/carvalha, cesto/cesta, jarro/jarra, manto/manta, rio/ria, etc.
Sobre este tipo de pares, pode ler-se na Moderna Gramática Portuguesa (Editora Lucerna, 2003, p. 132), de Evanildo Bechara:
«[...] a oposição masculino – feminino faz alusão a outros aspetos da realidade, diferentes da diversidade de sexo, e serve para distinguir os objetos substantivos por certas qualidades semânticas, pelas quais o masculino é uma forma geral, não-marcada semanticamente, enquanto o feminino expressa uma especialização qualquer
barco / barca (= barco grande)
jarro / jarra (um tipo especial de jarro)
lobo / loba (a fêmea do animal chamado lobo)
Esta aplicação semântica faz dos pares barco / barca e restantes da série acima não serem consideradas primariamente formas de uma flexão, mas palavras diferentes marcadas pelo processo de derivação. Esta função semântica está fora do domínio d...