Pergunta:
Gostaria de saber por que a palavra aguardente é considerada uma composição por aglutinação. Segundo as gramáticas, é levado em conta o acento das palavras originais (água e ardente) e uma perda fonológica quando na formação da nova palavra. Apesar de cair a letra a, não identifico nenhuma perda semântica da palavra nova.
Resposta:
Os conceitos de aglutinação e de justaposição são, sobretudo, conceitos que se relacionam com o aspeto formal das palavras, embora nem todos os gramáticos estejam de acordo na descrição de cada um dos conceitos, havendo quem considere que a existência do hífen é condição sine qua non para haver justaposição. Para outros, haverá justaposição quando duas palavras se possam dissociar e ser, de imediato, encaradas como palavras plenas. Como, por exemplo, mandachuva, de que ainda há, mesmo, quem escreva, e defenda, a forma manda-chuva.
No caso concreto de aguardente, tenho-a visto sempre associada à aglutinação, sendo, muitas vezes, um dos exemplos dados pelas gramáticas. A razão é a perda da vogal: águ(a) + ardente.
O critério de perda semântica de uma das palavras não é facilmente aplicável, ou defensável. Note-se, por exemplo, o caso de mandachuva. Com hífen ou sem hífen, não há, nesta palavra, grandes marcas do sentido original de cada uma delas… Há, sim, um conceito cultural associado ao conjunto.
Por outro lado, a identidade de sentido encontra-se também em prefixos que veiculam um sentido específico às palavras a que se associam, sem que, por isso, se questione se se trata de situações de aglutinação ou de justaposição. Estou a pensar, por exemplo, no prefixo in-, em palavras como infeliz. Parece-me claro que o prefixo in- tem um sentido que se dissocia facilmente do da palavra a que se liga...