Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Peço a vossa atenção para as frases seguintes: «Aventure-se por Portugal. Descubra a simplicidade de um país autêntico.»

a) Sabendo que o imperativo afirmativo apenas possui formas próprias para as segundas pessoas do singular e do plural, tomando as restantes pessoas as formas do presente do conjuntivo;

b) Sabendo (ainda relativamente ao modo imperativo) que a 3.ª pessoa terá de ser antecedida, expressamente ou não, por você e afins...

c) As formas verbais na frase acima dir-se-ão no presente do conjuntivo, ou no imperativo?

Resposta:

A sua questão reduz-se, na verdade, à primeira premissa, ou seja, à alínea a), pois, de facto, o imperativo, sendo um modo do discurso direto, ou seja, da comunicação em situação em que o emissor e o recetor estão no mesmo espaço ao mesmo tempo e a comunicar um com o outro, tem apenas a segunda pessoa, quer do singular, quer do plural. Há subjacente um eu a falar com um tu ou com um vós.

A complexidade das relações sociais faz com que nem sempre a segunda pessoa satisfaça as condições de comunicação formal, havendo, em muitos casos, necessidade de recorrer à terceira pessoa, do singular ou do plural, para definir ou expressar o tipo de relação, mais distanciada, entre o emissor e o recetor. Aí, os falantes recorrem às formas do conjuntivo, fazendo o mesmo sempre que o imperativo é negativo.

Por outro lado, a afirmação que faz em b) não corresponde à prática de aplicação do imperativo, pois não é habitual o uso expresso do pronome, ou de qualquer outra forma de sujeito, com o imperativo. Claro que, gramaticalmente, temos, pela flexão do verbo e, claro!, pelo contexto comunicacional, informação sobre o recetor ou recetores (seja ele tu, vós (ou vocês), você (ou o senhor, a senhora, etc.) ou vocês (ou os senhores, as senhoras, etc.). Mesmo quando o nome do recetor vem expresso, ele nunca é sujeito mas, sim, vocativo:

1) «Maria, faz os trabalhos.»

2) «Maria, não faças os trabalhos.»

3) «João, José, façam os trabalhos.»

Assim, as frases em apreço estão gramaticalmente no presente do conjuntivo, tendo no contexto em que ocorrem valor imperativo. Poderíamos mesmo dizer, com maior rigor, valor argumentativo, uma vez que o objetivo é persuadir, ou convencer, o recetor, que, no caso em análise, é também um leitor, pois, tanto ...

Pergunta:

Será a palavra prateleira da família da palavra prato?

Resposta:

Uma pesquisa no dicionário em linha da Porto Editora permite-nos identificar a origem da palavra prateleira: De pratel +-eira.

Por seu lado, se virmos o que significa pratel, ficaremos a saber que significa «prato pequeno».

Podemos, pois, dizer que prato e prateleira são da mesma família, até porque o sentido inicial de prateleira era «local onde se colocam os pratos», tendo depois evoluído para o sentido que hoje lhe atribuímos.

Pergunta:

Qual é a família de palavras de susto?

Resposta:

O Vocabulário Ortográfico do Português, no Portal da Língua Portuguesa, tem, no seu motor de busca, disponíveis algumas opções que nos permitem obter ajuda para questões como a que apresenta.

Com efeito, além de se poder optar por pesquisar uma forma tal qual como se nos apresenta («igual a»), podemos ainda pesquisar palavras que contenham («contém») determinada estrutura ou ainda que comecem («começa com») ou acabem («termina com») de determinada forma.

Assim, para a palavra susto, poderemos fazer a pesquisa por «contém», retirando a vogal final: «contém sust». Obteremos um conjunto de palavras, muitas delas não estando relacionadas com susto e que podemos eliminar logo ou com recurso a um dicionário, ficando, no final, com as que se relacionam com a palavra que nos interessa, no caso em análise, susto. Temos assim: «susto; assustar; assustadiço; assustador; assustadoramente; assustável, etc.»

Pergunta:

Um aluno está a escrever no quadro. O professor diz-lhe:

«O que está para aí a escrevinhar há tanto tempo?»

Como se deve classificar morfologicamente «para aí» neste contexto?

Resposta:

Do ponto de vista morfológico, à luz do Dicionário Terminológico, não há qualquer possibilidade de classificação do conjunto «para aí». No máximo, classificando individualmente cada uma das palavras, poderíamos dizer que são palavras invariáveis (B.2.2, flexão).

Considerando que as duas palavras se unem para construir sentido, do ponto de vista das classes de palavras, itens lexicais (B.3), diremos que se trata de uma locução.

A locução em apreço é classificada do ponto de vista discursivo, em C.1.1, Comunicação e interação discursivas, como marcador discursivo, mais propriamente como marcador conversacional ou fático (sublinhado meu, abaixo):

«C.1.1 – Marcadores discursivos

Unidades linguísticas invariáveis, com alto grau de gramaticalização, que não desempenham uma função sintáctica no âmbito da frase, nem contribuem para o sentido proposicional do discurso, mas que têm uma função relevante na produção dos actos pragmático-discursivos, estabelecendo conexões entre os enunciados, organizando-os em blocos, indicando o seu sentido argumentativo, introduzindo novos temas, mantendo e orientando o contacto do locutor com o interlocutor. Os marcadores discursivos podem subdividir-se em estruturadores da informação, sobretudo com a função de ordenação (“em primeiro lugar”, “por outro lado”, “por último”, etc.), de conectores (v.), de reformuladores, sobretudo com a função de explicação e de rectificação (“ou seja”, “por outras palavras”, “dizendo melhor”, “ou antes”, etc.), operadores discursivos, sobretudo com a função de reforç...

Pergunta:

Gostaria de saber quais são os fonemas da palavra pintainho e como se explica isso a crianças de 1.º ciclo.

Resposta:

Vale a pena ter em conta que uma coisa é o conhecimento que o professor precisa de ter acerca de um determinado assunto, outra coisa diferente é a forma como esse saber é transmitido aos alunos. Assim, para professor saber, diz-nos o Dicionário Terminológico (DT), em B.1.1, que um fonema é uma «Unidade mínima do sistema fonológico, que pode também designar-se como segmento. Dois sons que, substituídos um pelo outro no mesmo contexto, permitem distinguir significados são fonemas de uma língua. O /p/ de pata e o /b/ de bata são fonemas do português.»

No mesmo DT, mas no subdomínio E.1, «Representação gráfica, Letras acentos e diacríticos», podemos ver que letra é «Cada um dos sinais gráficos que constituem um alfabeto. A cada letra ou conjunto de letras pode corresponder um ou mais sons da língua...» e que dígrafo é «Grupo de duas letras que representa um único som».

Podemos dizer que um fonema é um som da língua portuguesa, no caso em apreço. Podemos ainda dizer que aos sons de uma língua corresponde, para a escrita, uma representação gráfica. Essa representação gráfica faz-se através do alfabeto e de alguns sinais auxiliares. Além disso, podemos dividir as letras do alfabeto em vogais e consoantes a que devemos acrescentar alguns dígrafos (nh, lh…), ou outros sinais, como acontece com a cedilha em ç.

Os fonemas da palavra pintainho são sete: /p/; /ĩ/; /t/; /ɐ/; /i/; /ɲ/; /u/. A consoante