Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Poderemos considerar o verbo doer uma palavra derivada por sufixação?

Resposta:

No âmbito dos sufixos, importa distinguir os que são derivacionais, e que permitem a formação de novas palavras, dos flexionais, que permitem identificar e atribuir sentido às diferentes formas que uma palavra simples pode adotar.

Os sufixos – com maior rigor, afixos, uma vez que a vogal temática assume uma posição de interfixo e não de sufixo – que permitem identificar a forma do verbo doer como verbo no infinitivo são indicadores do tema do verbo, afixo, ou interfixo, -e-, e do modo infinitivo, afixo -r.

No caso de doer, não há, pelo menos não conheço, sufixos que constituam, a partir do verbo, outras palavras além das várias formas verbais, na sua flexão, mas se, em vez de nos restringirmos aos sufixos, pensarmos também em prefixos, temos uma palavra derivada em condoer, que é uma palavra nova, construída com a intervenção de um prefixo derivacional.

Em síntese, embora sejam identificáveis dois afixos em doer, tal facto não dá origem a uma palavra derivada, uma vez que se trata de afixos flexionais, sendo o verbo doer uma palavra simples.

Pergunta:

Gostaria de saber se rapariga é da família de palavras de rapaz e se bocejo é da família de palavras de boca.

Resposta:

No caso de bocejar, assumindo que tem como origem boquejar, a palavra pertence à família de boca.

O mesmo não se pode dizer de rapariga, cuja origem é apontada como obscura, não havendo uma relação clara entre a raiz desta palavra e a de rapaz.

Pergunta:

Sábado último vi, num canal qualquer de TV, uma mensagem publicitária do Ministério da Educação onde se anunciava estarem «em criação 20 novos campus universitários». Mais ou menos isto.

Ora, será que esse ministério desconhece o plural de campus?

Ou era apenas coerência com a nova política de não humilhar os brasileiros oriundos da educação pública ao invés de ensiná-los a usar corretamente a nossa língua? Vai ver que foi redação de algum "cumpanhêro".

«Estarem em criação...», ou «estar em criação...»? Alguma outra incorreção, se for o caso, no texto?

Resposta:

Plural de campus campi. Deveria ser «campi universitários».

Quanto ao comentário, ele foge ao objetivo do Ciberdúvidas.

«Estarem em criação» – o sujeito é «20 novos campus universitários», pelo que o plural do verbo se justifica e é adequado.

Pergunta:

Qual o processo de formação da palavra Deco? Amálgama?

Resposta:

Deco é a designação adotada pela Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores. É, pois, o nome, ou firma, de uma instituição, e não é comum analisar a formação deste tipo de palavras… De qualquer forma, se considerarmos que Deco corresponde à junção da primeira sílaba de defesa com as duas primeiras letras de consumidor, poderemos classificá-la com um acrónimo. Veja-se a definição do Dicionário Terminológico:

«Acrónimo – Palavra formada através da junção de letras ou sílabas iniciais de um grupo de palavras, que se pronuncia como uma palavra só, respeitando, na generalidade, a estrutura silábica da língua.»

 

N. E. – No caso de Deco, como a cada letra não corresponde uma palavra, apenas a inicial deve ser maiúscula.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem se os pronomes o, a, os, as tomam as formas de «tem-la» e «quere-a» em vez de «tem-na» e «quere-la».

Consultei a gramática de Lindley Cintra e Celso Cunha e aplica a regra, exemplificando, «tem-nos», mas uma ficha de gramática retirada de um livro de exercícios da Porto Editora (Jogos de Língua Portuguesa, 8.º ano) apresenta aquelas duas formas como exceção.

Surgiu-me a dúvida e gostaria que me esclarecessem, se possível.

Resposta:

Dizem as regras que, por questões de eufonia, se o verbo terminar em -s ou -r, esta consoante cai, e o pronome ganha um -l:

a) «Tu tens» – «Tu tem-lo». Claro que, neste caso, a consoante nasal passou a m

b) «Tu queres» – «Tu quere-lo».

Dizem também as regras que, se o verbo terminar em ditongo nasal (seja ele representado por vogal e semivogal – dão –, seja-o por vogal e consoante nasal – tem), o pronome ganha um n:

c) «Ele tem» – «Ele tem-no».

Além destas regras, gerais, há algumas exceções, que se prendem, por exemplo, com o verbo querer, que, na terceira pessoa do presente, se escreve, hoje, quer, mas que já se escreveu quere. Esta forma é recuperada quando o verbo é acompanhado de pronome átono.

d) «Ele quer» – «Ele quere-o».

Todas as formas apresentadas são, pois, possíveis, embora seja necessário destrinçar a que pessoa pertencem, o que será possível analisando o contexto em que os verbos ocorrem.