Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tenho um pouco de dificuldade com o uso dos vocábulos atenção, atento e atendimento no que diz respeito à regência. Como se usa esses nomes e quais o erros mais frequentes ao utilizá-los?

Resposta:

Nem sempre é fácil definir regras rígidas de regência, pois o próprio contexto pode justificar o uso de uma regência distinta. Em relação aos vocábulos em apreço, para atendimento, não encontrei indicações específicas, mas a análise dos contextos em que ocorre aponta para o seu uso quer seguido de adjectivo («atendimento personalizado»), quer seguido da preposição a («atendimento ao público»).

Para os vocábulos  atenção e atento, encontrei no dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes, São Paulo, Editora Globo, as seguintes informações:

1. Atenção pode ocorrer com as preposições a, com, para com, sobre; no entanto, levando em conta as ocorrências de uso identificadas a partir de uma pesquisa Google, parece que a preposição sobre não é, hoje, muito usada, ao passo que ocorre a preposição de, em frases como «É preciso chamar a atenção das pessoas para o assunto». A palavra atenção é, sobretudo, usada em expressões mais ou menos fixas, como «chamar a atenção de alguém para alguma coisa; «ter em atenção algo»; «dar/tomar/prestar atenção a algo ou alguém». Pode ainda integrar locuções como «à atenção de», «em/com atenção a».

2. Atento pode ser seguido das preposições a,

Pergunta:

Li as explicações que são dadas no vosso site, mas continuo a ter dificuldades em distinguir os complementos do nome dos modificadores restritivos quando são introduzidos por de. Por que razão em «a construção do edifício», «a oferta de livros» e «a estação do metro» estamos perante o complemento do nome, e em «o rapaz de barba», «o passeio de barco» e «a viagem de Lisboa ao Porto» já estamos perante o modificador restritivo? Em termos semânticos, parecem-me tão obrigatórios uns como outros.

Resposta:

A questão que apresenta é pertinente, ainda que de difícil resposta, pois em algumas situações a fronteira não é muito clara. No entanto, há um aspecto a ter em conta: nem sempre o valor semântico tem uma relação directa com a função sintáctica. Vejamos o caso de dois verbos, amar e gostar, nas frases:

1 – «O João ama a Maria.»
2 – «O João gosta da Maria.»

Semanticamente, os dois verbos são próximos. Sintacticamente temos em 1 um complemento directo e em 2 um complemento oblíquo.

Voltando à dúvida apresentada, vou tentar ilustrar as situações em que o nome ocorre com complemento, socorrendo-me da Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, bem como dos apontamentos facultados durante a acção de formação Inovação e Tradição no Ensino do Português: a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, que teve lugar na Faculdade de Letras, em Outubro e Novembro de 2005.

A – Os nomes cujo complemento é mais facilmente identificado são os deverbais, ou seja, aqueles que derivam de um verbo. Esses nomes têm como complementos as mesmas entidades que integram o predicado cujo núcleo é o verbo. Vejamos as frases:

3 – «A empresa construiu um edifício.»
4 – «A construção do edifício foi célere.»

Repare que edifício em 3 é núcleo do grupo nominal que tem a função de complemento directo do verbo, ou núcleo do predicado. Em 4, por sua vez, é complemento do nome, ligado a esse nome pela preposição de. Esta é a transposição habitual, sempre que um verbo dá origem a um nome. E é a mesma situação que ocorre na expressão «oferta de livros», dado que oferta é um...

Pergunta:

Gostaria de saber se existem normas específicas para formatação de texto no "e-mail" (institucional/empresarial). Qual é o espaçamento entre linhas adequado? Como elaborar o vocativo? Qual a melhor forma de encerramento?... Tenho recebido "e-mails" institucionais que variam quanto ao espaçamento entre linhas desde o vocativo ao corpo do "mail". Existe alguma norma instalada a este respeito?

Muito obrigada e continuação de bom trabalho.

Resposta:

Tanto quanto sei, não há uma norma genérica que regulamente este aspecto, nem mesmo, no que se refere a alguns pontos, para a comunicação em papel. É o caso, por exemplo, do entrelinhamento, ou seja, do espaço entre linhas, embora se tenha vulgarizado o espaçamento 1,5.

Por outro lado, a formatação da comunicação de uma empresa é definida pela própria empresa, podendo haver diferenças entre várias empresas. Para já não falar, no caso do correio electónico, das eventuais restrições de formatação, ou pré-formatação, que possa haver em alguns gestores.

Salvaguardadas essas situações, é comum, em mensagens electrónicas formais, proceder da mesma forma que se procederia se essa mensagem tivesse como suporte o papel, havendo adaptações específicas:

O assunto é inscrito no local apropriado, predefinido no início da mensagem, ou seja, fora do espaço dedicado à mensagem propriamente dita.

O vocativo costuma vir à esquerda, isolado numa linha, seguido ou não de espaçamento maior, e, claro, com vírgula. Fórmulas genéricas como «Ex.mo Sr.» ou mais personalizadas, dependendo da situação de comunicação específica (Sr. presidente… etc.) podem aplicar-se.

Os parágrafos são, habitualmente, assinalados por um espaço vazio entre eles, do mesmo modo que se procede, em muitas empresas, nos ofícios.

As fórmulas finais também se aproximam um pouco do que costuma surgir nos ofícios, nos quais se regista um aligeiramento dessas formas. «Cumprimentos cordiais», «Com os melhores cumprimentos» são opções que encontro muitas vezes.

A data não costuma colocar-se, pois ela é gerada automaticamente pelo sistema de correio electrónico.

Gostaria ainda de referir que uma mensage...

Pergunta:

A palavra tricinquentenário está relacionada ao número ordinal 350.º, ou a 150.º?

Se se referir ao segundo, como supuseram alguns colegas meus (não sei se corretamente), como faria para referir-me ao primeiro, i. e., a 350.º?

Resposta:

Para percebermos o sentido atribuído a tricinquentenário, importa analisar o sentido do prefixo tri-. Vejamos algumas palavras em que ele entra:

1 — Tricentenário
2 — Tricinquentenário
3 — Tridimensional
4 — Trifásico
5 — Trimestre
6 — Tricampeão
7 — Triatleta
8 — Triatlo

Nos exemplos de 1 a 6, o prefixo tri- multiplica, ou, melhor, atribui valor triplo à palavra a que se associa. Assim, em tricentenário, temos três centenários, ou seja, 300 anos; em trifásico, temos três fases; em trimestre, três meses.

Fogem a esta regra as palavras triatlo e triatleta, de origem grega, nas quais o conceito três está presente, mas em que no caso de triatlo estamos perante uma prova constituída por três modalidades e em triatleta temos um atleta que executa as três modalidades.

Centremo-nos nos exemplos 1 a 6, dado que é nesse grupo que se insere a palavra em apreço. Vimos que o prefixo tri- atribui valor triplo, ou multiplica por três a palavra que se segue, se ela integrar um numeral. Podemos, pois, concluir que

Pergunta:

Oiço (e leio) frequentemente frases do tipo «ambos não falaram», «ambos não disseram», etc., em vez de «nenhum (dos dois) disse, falou, etc».

Pelo tempo que já levo de vida (60), de escrita e de leitura, habituei-me (e creio que bem) a utilizar a segunda maneira de expressar.

Entretanto, tenho dificuldade em explicar sucinta, correcta e gramaticalmente esta utilização da língua portuguesa, a quem se opõe à segunda versão, afirmando que a primeira estará correcta e que, além disso, fará sentido (??).

Eu digo que «nenhum (dos dois) viu» faz mais sentido do que «ambos não viram», mas não convenço...

Eu digo que estamos num universo de acção (considerando que a omissão também é uma acção), e não faz sentido fazer utilização de uma negação para referir uma acção, mas não chega...

Eu digo que o termo ambos tem sentido positivo (yn, yang), e que o não lhe retira a carga positiva, mas não colhe...

Eu digo que a utilização da primeira expressão é "português arrevesado", mas..., mas..., mas...

Podem ajudar-me?

Resposta:

A questão que apresenta é muito interessante e devo reconhecer que não encontrei nenhum trabalho em que o tema fosse abordado.

 

Pessoalmente, tal como o consulente, não aceito expressões como as que refere, apesar de nunca me ter apercebido da sua ocorrência, antes do seu texto! Creio que essa não-aceitação advém, como refere, do facto de sentir ambos com valor positivo, equivalente a os dois, ou a um e outro. Essa situação, parece-me, acontece com outras expressões de valor positivo. Vejamos um pequeno corpus:

1 – (?) «Os dois não falaram no assunto.»

2 – (?) «Um e outro não falaram no assunto.»

3 – (?) «Ambos não falaram no assunto.»

4 – «Nem um nem outro falaram no assunto.»

5 – (?) «O João e a Maria não falaram no assunto.» (reciprocidade)

 

6 – «Nem o João nem a Maria falaram no assunto.»

7 – «Nenhum falou no assunto.»

Expressões como as que ocorrem em 1, 2 e 5, em que os elementos que constituem o sujeito estão, expressa ou implicitamente, ligados por adição, ou através de coordenação copulativa de valor positivo, têm como alternativas mais formais 4 e 6 em que, em vez da conjunção copulativa de polaridade afirmativa, ocorre a conjunção de valor negativo nem. Em 7, a negativa faz-se com r...