Pergunta:
Com relação à resposta n.º 12527, gostaria de um pequeno esclarecimento: como foi citado, os complementos do verbo desculpar podem ser diretos e indiretos, conforme o exemplo «desculpem-nos a nossa falha», em que «nos» é complemento indireto e «a nossa falha» é complemento direto. No final, há outro exemplo com a regência a:
«Não posso desculpar ao amigo a intromissão na minha vida.»
Nesse caso, «ao amigo» seria complemento indireto, e «a intromissão na minha vida» seria complemento direto. Poderia escrever dessa forma: «não posso desculpar o amigo à intromissão na minha vida»?
A minha dúvida é se o complemento direto e indireto pode indistintamente ser a pessoa ou o motivo do pedido de desculpa.
Muito obrigado!
Resposta:
Retomemos os exemplos que refere:
(1) «Desculpem-nos a nossa falha.»
(2) «Não posso desculpar ao amigo a intromissão na minha vida.»
Em ambas as frases, a acção de desculpar recai directamente sobre, respectivamente: «a nossa falha» e «a intromissão na minha vida». As duas expressões podem ser substituídas pelo pronome pessoal com caso acusativo, ou seja, com valor de complemento directo:
(1.1) «Desculpem-no-la.»
(2.1) «Não posso desculpá-la ao amigo.»
Por sua vez, o complemento indirecto é substituível pelo pronome pessoal com caso dativo:
(1.2) «Desculpem-nos a nossa falha.»
(2.2) «Não posso desculpar-lhe a intromissão na minha vida.»
Embora o verbo desculpar permita construções em que o complemento directo seja uma entidade humana, como em (3),
(3) «Desculpem-nos pela nossa falha»,
sempre que esteja presente um outro complemento directo, como é o caso em (1) e (2), a entidade humana representada deverá ser considerada complemento indirecto. Note-se, aliás, que o pronome nos que aparece em (2.2) e o pronome que aparece em (3) não estão no mesmo caso. Em (2.2) estamos perante um dativo enquanto em (3) estamos perante um acusativo, apesar de serem homónimos.
Uma frase como (4) não é aceitável num registo formal da língua portuguesa:
(4) *«Não posso desculpar o amigo à intromissão na minha vida.»
Com efeito, independentemente das possibilidades de construção do verbo