F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
F. V. Peixoto da Fonseca <BR> (1922 — 2010)
F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010)
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Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca (Lisboa, 1922 - Lisboa, 2010) Dicionarista, foi colaborador da Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e da atualização do Dicionário de Morais, membro do Comité International Permanent des Linguistes e da Secção de História e Estudos Luso-Árabes da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio de Honra da Sociedade da Língua Portuguesa e da Academia Brasileira de Filologia. Antigo decano dos professores do Colégio Militar, era licenciado, com tese, em Filologia Românica, distinguido com a Ordre des Palmes Académiques. Autor de várias obras de referência sobre a língua portuguesa, entre as quais O Português entre as Línguas do Mundo, Noções de História da Língua Portuguesa, Glossário etimológico sobre o português arcaico, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores Galego-Portugueses, O Português Fundamental e O Ensino das Línguas pelos Métodos Audiovisuais e o Problema do Português Fundamental. Outros trabalhos: aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Existem vários termos médicos que se escrevem de maneira diferente dependendo do dicionário ou dos livros, e alguns são mesmo inexistentes nos dicionários.

Por tudo isto, gostaria que me esclarecessem sobre a ortografia dos seguintes termos médicos: "metastização" ou "metastisação", "esofagogástrica" ou "esófago-gastrica", "gastro-esofágica" ou "gastroesofágica", "esteato-hepatite" ou "esteatohepatite", "gastroenterite" ou "gastrenterite", "traqueo-esofágica" ou "traqueoesofágica", "pós operatório" ou "post operatório", "pós-rádica" ou "post rádica".

Obrigada.

Resposta:

Metastização, esofagogástrica, gastroesofágica, esteatoepatite, gastrenterite, traqueoesofágicas, pós-operatório, pós-rádica.

Pergunta:

Na cidade de Constantinopla, atual Istambul, Turquia europeia, foi construída há muitos séculos a basílica cristã que recebeu o nome grego de Hagia Sophia, o que vertido para o nosso idioma fica Santa Sabedoria, já que, em grego, hagia significa «santa», e sophia, «sabedoria». Este prédio foi transformado em mesquita, no mesmo ano da queda da cidade nas mãos dos turcos, 1453; posteriormente, em 1935, foi transformada em museu, condição em que, se não estou em engano, o antigo templo encontra-se até hoje.

A palavra sophia pode funcionar também como nome de mulher. Houve, há e certamente haverá muitas mulheres com este nome em todos os países cristãos. Algumas delas em vida foram santas, tendo essa santidade sido reconhecida com a canonização.

Entretanto, no caso do nome do templo em apreço, sophia significa apenas «sabedoria» mesmo, não é nome de uma mulher santa, portanto deve ser traduzido como «sabedoria». A Santa Sabedoria é, no caso, o conhecimento do Evangelho, das Escrituras e da tradição cristã, do Cristianismo como um todo. É este saber santo.

Portanto, o melhor aportuguesamento para Hagia Sophia seria mesmo Santa Sabedoria, pois traduzi-lo como Santa Sofia, como ocorre na maioria dos casos, transmitiria aos mal informados a falsa ideia de que essa basílica recebeu o nome de uma santa chamada Sofia, o que nunca ocorreu. Deve tratar-se de mais um aportuguesamento desastrado como outros existentes, presumo.

Por via das dúvidas, peço a opinião infalível dos consultores de ouro do áureo sítio Ciberdúvidas sobre esta questão.

Muito obrigado.

Resposta:

Concordo plenamente com o autor desta consulta.

Pergunta:

Pedia que me esclarecessem o seguinte:

Na Bíblia, ou melhor, no Evangelho (cfr. Jo 1, 42), Jesus disse a Simão Pedro, o primeiro papa, que ele, a partir daquele momento, chamar-se-ia Pedro (do grego Πετρός), isto é, «pedra»: a pedra angular da Igreja. Em aramaico, que era a língua falada por Cristo, diz-se Kkēifá’ (כֵּיפַא). Por sua vez, em hebraico diz-se Kkēf (כֵּף). A tradução deste vocábulo aramaico para o grego é Kefás (Κηφα̃ς). Por sua vez, em latim é traduzido por Cefas e em português é também Cefas. A minha dúvida reside nisto: como se deve ler correctamente em português Cefas? Com um c de cenoura ou com um q de quinta? É que no original aramaico o c de Cefas é lido com um q. Eis a minha dúvida. Mas, por sua vez, em latim, que é, dentre destas, a língua mais próxima do português, Cefas lê-se com um c de cenoura.

Resposta:

Cefas, com o c pronunciado como em cenoura. Em latim clássico, na sua pronúncia restaurada, o c também só se lia como /k/, e não como ss, valor usado na tradicional e seguido em português.

Pergunta:

Deve escrever-se "toxicodependente", ou "toxico-dependente"?

Que acentuação?

Que pronúncia?

Resposta:

Deve escrever-se numa só palavra (toxicodependente), sinónimo de toxicomaníaco. O termo é grave (ou paraxítono), portanto com a sílaba den com tónica.

O o da primeira sílaba é aberto como em tóxico, mas não tónico.

Pergunta:

Existem em Cabo Verde uma série de topónimos cujo nome, em crioulo, começa por “Tôp’” ou tem “Tôp’” na sua constituição — Tôp´ d´ Ág´a Dôç´, Tôp´ da Curôa (a 2.ª montanha mais alta de Cabo Verde), Tôp´ d´ Bulím, Tôp´ d´ Guíntch´, Tôp´ d´ Mésa, Topóna, Tôp´ V’rmêi´, Tupím d´ Môrt´. Só que, nos crioulos de Barlavento, a forma "Tôp" é ambígua, tanto pode ter provindo de “topo” como de “tope”, e tanto pode ter provido de uma palavra com “ó” aberto como com “ô” fechado. A grafia (em português) que eu tenho visto em mapas não é consistente, ora aparece “Topo”, ora aparece “Tope”. O que eu queria perguntar era:

1 — A palavra “tope” existe de fato em português?

2 — Se existir, existe alguma fonte fidedigna onde eu possa verificar a grafia correta desses topónimos, quando é que é “Topo” e quando é que é “Tope”?

3 — Se for “Tope”, como é que se pronuncia, “tópe” ou “tôpe”?

Obrigado.

Resposta:

Existe, e deve pronunciar-se com o aberto, como em lote ou pote. Há também a locução adverbial a tope. Já a palavra topo tem a pronúncia tôpo quando substantivo e tópo quando verbo (verbo topar). Quanto aos topónimos cabo-verdianos citados e outros semelhantes, devem proferir-se com o aberto ou fechado conforme a pronúncia local.