F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
F. V. Peixoto da Fonseca <BR> (1922 — 2010)
F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010)
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Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca (Lisboa, 1922 - Lisboa, 2010) Dicionarista, foi colaborador da Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e da atualização do Dicionário de Morais, membro do Comité International Permanent des Linguistes e da Secção de História e Estudos Luso-Árabes da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio de Honra da Sociedade da Língua Portuguesa e da Academia Brasileira de Filologia. Antigo decano dos professores do Colégio Militar, era licenciado, com tese, em Filologia Românica, distinguido com a Ordre des Palmes Académiques. Autor de várias obras de referência sobre a língua portuguesa, entre as quais O Português entre as Línguas do Mundo, Noções de História da Língua Portuguesa, Glossário etimológico sobre o português arcaico, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores Galego-Portugueses, O Português Fundamental e O Ensino das Línguas pelos Métodos Audiovisuais e o Problema do Português Fundamental. Outros trabalhos: aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O professor doutor Manuel Freitas e Costa refere no seu Dicionário de Termos Médicos, da Porto Editora, o termo ortodôncia ou ortodontia (de orto- e do gr. odoús, odóntos «dente» e –ia) s.f. como «Ramo da medicina dentária ou odontologia que está relacionado com a profilaxia e o tratamento da maloclusão dos dentes (relação anormal entre os dentes superiores e os dentes inferiores)».

Admite também o mesmo dicionário os substativos ortodoncista ou ortodontista como «especialista em ortodôncia ou ortodontia» e ainda ortodonto como «indivíduo que tem os dentes regulares e bem implantados».

Gostaria de saber se podemos, de modo semelhante, utilizar o termo “exodonto” para um indivíduo que apresenta exodôncia (protusão dos dentes para a frente e para fora) como se explica na pergunta/resposta 27 207.

Obrigado.

Resposta:

Parece-me neologismo bem formado, desde que comparado com ortodonto, conforme faz.

Pergunta:

As palavras homenagem e homenagear são palavras da família de homem?

Obrigado pela atenção dispensada.

Resposta:

Homenagear vem de homenagem, que, por seu turno, provém do provençal omenatge,1 todos da família do homem (do latim hominem, acusativo de homo).2

 

1  N. R.: O Dicionário Houaiss indica que homenagem e o verbo derivado homenagear têm origem no «prov[en]ç[al] ant[igo]. omenatge, "vassalo, homem de armas que deve sua fidelidade ao suserano", ligado ao prov[en]ç[al] ome, "homem", e tido como der[ivado] do lat[im] *hominatĭcus, id[em]

2 N. R.: Apesar de semanticamente afastadas da palavra homem, a etimologia permite ligar estas palavras à família de palavras em apreço. Digamos que são casos-fronteira,  embora haja membros mais característicos desta família de palavras como homicídio, hominídeo, hominização e hombridade (pelo espanhol hombre).

Pergunta:

Numa comédia inédita do séc. XX, mas cuja acção se passa no séc. XVIII, vi várias palavras e uma expressão que me deixaram algumas dúvidas. Reproduzo-as tal qual aparecem no texto dactilografado do autor.

Primeiro, gostava de saber se as palavras que seguem abaixo estão escritas correctamente tendo em conta que a peça foi escrita no séc. XX:

«ageitar os caracoes»

«dessimulado»

«ao invez»

«pezar»

«permição»

«possue»

«interdicto»

«outrém»

«dezejo» (1.ª p. v. desejar)

algun

Gostava ainda de saber se as expressões abaixo correspondem à forma de falar do séc. XVIII e se estão escritas correctamente:

«tu eres» (verbo ser)

«inda»

«ter conrespondido»

«sem sua culpa dela»

«sei terdes intervindo»

«senrezão»

Gostava ainda de saber o que significa a pergunta abaixo, se é uma expressão característica do séc. XVIII e se está escrita correctamente:

«Tens que mochilas ou eguariços sejam mafra baixa de mais para ti?...»

Muito obrigada.

Resposta:

ageitar os caracoes = ajeitar os caracóis
dessimulado = dissimulado
ao invez = ao invés
pezar = pesar
permição = permissão
possue = possui
interdicto = interdito                
outrém = outrem
dezejo (1.ª pessoa do singular do prresenet...

Pergunta:

Qual o plural masculino de cirurgião? "Cirurgiães", "cirurgiões"?

Aprendi que, nas palavras terminadas em ão, o plural se fazia tendo em conta a palavra latina no acusativo plural, caindo o n, substituído pela vogal nasal (leonem, leonesleões; manum, manusmãos; canem, caniscães).

Nesse sentido, e considerando chirurgianum, chirurgianes, penso que o correto é "cirurgiães". Mas ouço e vejo constantemente, dizer e escrever "cirurgiões" – até por amigos médicos da especialidade de cirurgia...

Resposta:

O correcto é cirurgiões, e cirurgião vem de cirurgia mais -ão, mas há quem proponha, como J. P. Machado, um latim hipotético chīrurgiānu-, derivado de chīrurgĭa, «cirurgia».

O Dicionário Houaiss regista dois plurais: cirurgiões e cirurgiães.

Pergunta:

O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, datado de 1990, passou a incluir no alfabeto oficial da língua portuguesa as letras, até aqui não utilizadas, k, w e y, alterando o alfabeto de 23 para 26 letras oficiais. Eu gostaria que os senhores me pudessem explicar apenas três coisas: qual o nome oficial destas novas letras, aquando do seu soletramento, a classificação quanto ao tipo destas mesmas letras (vogais, ou consoantes), e qual o som que produzem no aparelho fonador humano (exemplo: as letras b e p são letras bilabiais, uma vez que é preciso fechar os dois lábios para estas mesmas letras poderem ser pronunciadas). Não sei se me estou a fazer entender correctamente.

Agradecido pelo esclarecimento possível.

Resposta:

O k continua a chamar-se capa ou , o w passou a dáblio, «tradicionalmente também grafado dâblio e designado duplo vê», e o y chama-se ípsilon, como já igualmente se dizia, «também designado tradicionalmente por i grego».

Em harmonia com o actual Acordo Ortográfico, usam-se em nomes próprios e seus derivados, por exemplo, Kant e kantismo, ou Wagner e wagneriano (valendo de v), ou Darwin e darwinismo (aqui com o valor de u), em unidades monetárias (kuanza e yuan, por exemplo), em símbolos de uso internacional (K = potássio; kelvin, Yd = jarde, Dy = disprósio; etc), em topónimos e derivados (Washington, washingtoniano; Wellington, wellingtoniano), em desportos e desportistas (windsurfe, windsurfista). O k é consoante, o w é vocálico quando vale de u e consonântico quando de v, e o y é vocálico.

Isto, é claro, em português.

 


Cf.
 Aventuras escondidas no alfabeto