Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sou estudante do curso de Direito e, em uma prova da matéria Linguagem Forense, a professora deu uma questão, com uma frase ambígua, perguntando qual o motivo da ambiguidade e solicitando a correção.

Quero saber se consigo desfazer a ambigüidade da frase corrigindo a pontuação: «Proibido o uso de colete salva vidas no pedalinho sem camisa» colocando a expressão «no pedalinho» entre vírgulas.

Resposta:

Não me parece que a vírgula desfizesse a ambiguidade.

Consigo imaginar duas situações:

– «Proibido o uso de colete salva-vidas sem camisa no pedalinho», ou seja, que se deve colocar o colete salva-vidas com camisa.

– «Proibido o uso de colete salva-vidas no pedalinho sem camisa», em que seria o pedalinho que não estaria usando camisa, situação impossível.

Nota: Recorde-se que ambiguidade já não leva trema, que foi suprimido no novo AO, e salva-vidas deve ser hifenizado.

Pergunta:

Tenho me deparado com algumas diferenças entre gramática portuguesa e brasileira.

Mas a minha pergunta de hoje é muito directa: diz-se «vivo na África», ou «vivo em África»; «a situação da população na África» ou «a situação da população em África»?

Resposta:

As gramáticas publicadas no Brasil acolhem ambas as possibilidades, mas no uso vivo brasileiro lê-se e ouve-se muito mais «na/da África», «na/da Inglaterra», «na/da Espanha», «na/da Itália», etc.

No português europeu, embora a regra preveja o uso do artigo a preceder o nome do continente África (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 22), a realidade é que o uso não a segue, porque, quando nos referimos ao continente, diz-se «em África». Usamos «na África», quando queremos designar uma determinada parte, região ou país de África: «na África Austral», «na África do Sul»... Repare-se na estrutura do provérbio «Meter uma lança em África».

Pergunta:

Quais são as duas interpretações possíveis para a seguinte frase: «Pode escrever: Caderno é Tilibra.»?

E quais as duas conjunções que podem ser colocadas no lugar dos dois-pontos (:)?

Resposta:

Pode-se interpretar como «Asseguro-lhe que, se quer um bom caderno, compre Tilibra» ou «O caderno Tilibra é o lugar ideal para fazer as suas anotações».

Poderia usar-se a conjunção que: «Pode escrever, que caderno é Tilibra.»

Ou se: «Pode escrever, se é caderno, é Tilibra», esta opção acrescentando um verbo à frase.

Pergunta:

Antes de tudo, parabéns pelo sítio.

Gostaria que me esclarecessem uma dúvida: quais as diferenças entre complemento indireto e complemento oblíquo? Essas estruturas são efetivamente duas, ou são nomenclaturas diferentes para um só fenômeno? Aqui, no Brasil, os filólogos distinguem semelhantemente complemento oblíquo de objeto indireto? Em que gramática poderia encontrar?

Desculpe-me pela redação (sujeito às possíveis correções), tanto quanto pela rudimentar pergunta.

Resposta:

Tanto «complemento indireto» quanto «complemento oblíquo» tenho visto apenas em livros publicados em Portugal. Não me consta que sejam termos normalmente ensinados nas escolas brasileiras, mas posso estar errado. O complemento indireto corresponde ao nosso objeto indireto, e o complemento oblíquo, a vários tipos de complemento, como, por exemplo, adjuntos adverbiais de lugar, de modo, etc.

Pergunta:

Creio que não compreenderam a dúvida do consulente na pergunta A expressão «em hipótese nenhuma». Ele estava questionando a respeito do contraste entre «em hipótese nenhuma» e «em hipótese alguma», que é outra forma bastante usual no Brasil.

Resposta:

As duas expressões são corretas e equivalentes. Quando se põe o indefinido algum após um substantivo, aquele adota valor negativo.