Luciano Eduardo de Oliveira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luciano Eduardo de Oliveira
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Luciano Eduardo de Oliveira, poliglota, tradutor, professor de idiomas, formado em Letras na Unifac Faculdades Integradas de Botucatu.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se o emprego da vírgula entre adjuntos adnominais é obrigatório ou facultativo.

Ex.: «Nesta data, juntei a petição do autor de execução de sentença de folha n.º 100.»

«Nesta data, juntei a petição do autor, de execução de sentença, de folha n.º 100.»

Sei que, entre adjuntos adverbiais, a vírgula é facultativa, no entanto a gramática dispõe que, entre termos de mesmo valor sintático, usa-se vírgula.

Resposta:

Se isso quer dizer que a petição pode ser, ou não, de execução de sentença, a vírgula pode, ou não, ser usada, mas com uma diferença de significado. Se «de execução de sentença» for considerado como uma espécie de aposto, que se poderia retirar da frase sem prejuízo para a compreensão, deve vir entre vírgulas. Entretanto, se o que vem entre vírgulas restringe o significado da petição, a ausência destas é obrigatória. Como acredito que seja esta interpretação a verdadeira, não se usam as vírgulas. É a mesma diferença que se vê em orações adjetivas:

«As crianças, que gostam de doce, não ganharam nenhum.»

Todas as crianças gostam de doce e apesar disso não ganharam nenhum.

«As crianças que gostam de doce não ganharam nenhum.»

As crianças que não gostam ganharam.

Cf. Saiba usar a vírgula

Pergunta:

É correcto dizer-se «João Cidadão é tradutor ajuramentado...», ou será que deve ser «juramentado»? São os dois termos absolutos sinónimos?

O dicionário da Porto Editora (edição electrónica) remete juramentar para ajuramentar, dando a perceber que se trata de palavras sinónimas. O Dicionário Aurélio também dá explanações semelhantes para ambas as palavras: «Juramentar (1) Tomar juramento de (réu, testemunha etc.). [td.: Juramentar a testemunha.]; (2) Fazer jurar, ou obrigar a si mesmo por juramento. [td.: Juramentou o indiciado para levá-lo a contar a verdade.] [tdr. + de: Juramentou -se de não contar o triste episódio à mulher.]; (3) Declarar ou revelar sob juramento. [td.: Juramentou sua versão do fato].»

«Ajuramentar (1) Tomar juramento de; fazer jurar [td.: ajuramentar as testemunhas.]; (2) Confirmar por juramento [td.: Ajuramentaram as declarações do homem.]; (3) Obrigar(-se) a, prometer por juramento [tdr. + a, de: Ajuramentei -me a/de identificar o criminoso.]»

Pode concluir-se que é indiferente utilizar um ou outro termo em qualquer situação?

Resposta:

Obrigado pela informação, pois nunca tinha ouvido falar em «tradutor ajuramentado», apesar de eu mesmo ser tradutor. Pode ser que se use mais em Portugal, não o poderia afirmar com certeza. No Brasil, nunca ouvi a forma com o a inicial, o que também não quer dizer que não se use. Vale lembrar que o prefixo a- em português se encontra em diversas variantes, sentidas ou não como populares ou arcaicas ou usadas em contextos um pouco diferentes, mas mesmo assim dicionarizadas, como levantar e alevantar, assoprar e soprar, assoalhar e soalhar, baixar e abaixar, etc.

A denominação «tradutor juramentado» é bem difundida no Brasil, e tudo me leva a crer que em Portugal também, mas o nome oficial dado no Brasil, aparentemente desconhecido pelos leigos, é tradutor público e intérprete comercial.

Nota: No português europeu, de facto, os adjetivos (e particípios passados) juramentado e ajuramentado são sinónimos, estando registadas as duas formas como variantes no recente Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC. Por isso, é legítimo o uso de uma ou de outra forma.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado do provérbio (dito popular) «Gato ruivo, do que usa, cuida».

Resposta:

Não conheço esse provérbio, que aparece mais de 65 000 vezes na Internet, mas parece significar o mesmo que «Quem ama cuida», que é bem conhecido, pelo menos no Brasil.

Essa versão com o «gato ruivo» (nunca ouvi falar dum gato ruivo, ruivo para mim refere-se a pessoas) parece ter um pouco mais de expressividade talvez pelo fato de ruivo e cuida terem o mesmo ditongo.

Nota 1: Achei confirmação desse provérbio nesta página dita especializada.

Nota 2: Da pesquisa realizada, a bibliografia específica relativa a provérbios e a expressões populares, também não se encontrou a explicação para esse provérbio, embora «Gato ruivo, do que usa, cuida» esteja registado em várias obras (O Livro dos Provérbios Portugueses, de José Ricardo Marques Costa, Lisboa, Ed. Presença, 2004; O Grande Livro dos Provérbios, de José Pedro Machado, Lisboa, Ed. Notícias, 2004; Dicionário da Gíria Brasileira, de Manuel Viot, São Paulo, Ed. Univeritária, 1945; e Novo Dicionário da Gíria Brasileira, de Manuel Vioti, 3.ª ed., Rio de Janeiro, Liv. Tupã Editora, s.d.).

Pergunta:

Bom, eu gostaria de saber o que são verbos não significativos. Não achei aqui no site, apenas achei verbos significativos.

Resposta:

Verbos não significativos, também conhecidos como estáticos, pelo menos na terminologia inglesa, são os que indicam estado, qualidades e condições, como ser, estar, andar, ficar, permanecer (todos estes também chamados verbos de ligação ou copulativos, por ligarem um predicativo ao seu sujeito), mas também ter, na frase «O João tem três filhos».

Nota: Essa denominação também não é conhecida na terminologia usada em Portugal. A única semelhança a essa classificação é a de «verbos de significação indefinida» (referida na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et alli, 2005, p. 302), uma outra forma de designar os verbos copulativos, que aí são apresentados como distintos dos auxiliares1.

1 Repare-se na transcrição:

«Verbos copulativos (predicativos, de ligação ou – e que a tradição gramatical luso-brasileira chamava - de significação indefinida) – que selecionam um argumento interno – uma oração pequena, cujo núcleo pode ser adjetival, nominal, preposicional ou adverbial, que tem a relação gramatical de predicativo de sujeito. SUJ  VEcop.  PREDsuj: "O bebé está contente", "A Maria é astrofísica", "Os meus amigos estão com pena de se ir embora", "O museu fica perto da estação". Lista de verbos copulativos: andar, continuar, estar, ficar,

Pergunta:

São duas perguntas de que quero resposta. Meu professor do cursinho disse que entrementes é conjunção adversativa, mas não entendi. Algum gramático diz que entrementes é conjunção adversativa ou concessiva? Se não, o que é entrementes?

Resposta:

Entrementes é advérbio ou substantivo. Para dar uma resposta melhor, precisaríamos de mais contexto.