Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual é o termo correto: «à tona de água» (como aparece na obra "A viúva e o papagaio") ou «à tona da água»?

Desde já agradeço a atenção.

Resposta:

O uso do artigo não depende da locução «à tona de». O uso do artigo está, sim, dependente do nome comum água. Celso Cunha e Lindley Cintra, na Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984), afirmam que «quando queremos indicar a noção expressa pelo substantivo de um modo geral, isto é, em plena extensão do seu significado» (p. 237) omite-se o artigo  por exemplo, «à tona de água». Por outro lado, quando queremos indicar a noção expressa por esse mesmo substantivo de um modo mais concreto, optamos pelo uso do artigo – caso de «à tona da água». 

Refira-se que tona, que significa «película mais ou menos fina, externa, que envolve certos corpos; pele, casca» (Dicionário Houaiss), ocorre no discurso sobretudo integrado na locução adverbial à tona («a verdade vem sempre à tona») ou na locução prepositiva à tona de («as folhas ficavam sempre à tona da água»).

 

CfQual é a origem da palavra «água»? + Viagem pelos nomes da águaágua

Pergunta:

É correcto dizer-se que uma pessoa "é insuficiente renal"?

 

[N.E. – Manteve-se a forma correcto, anterior à grafia correto, prevista pela norma ortográfica atualmente em vigor.]

Resposta:

Uma pessoa que sofra de insuficiência renal, doença provocada pela diminuição progressiva da função renal, é, efetivamente,«insuficiente renal». No entanto, e além desta designação estar atestada pela Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, como o próprio nome da mesma indica, o mais corrente é ouvirmos «doente com insuficiência renal/que sofre de insuficiência renal», designação também ela correta. 

Pergunta:

Escreve-se «casa editora» ou «casa-editora»?

Resposta:

A grafia correta é casa editora.

A questão levantada pelo consulente prende-se com o facto de estarmos perante uma construção nome + adjetivo, a qual, em algumas situações, se fixou na língua com o uso de hífen, como é o caso de diretor-geral (ver respostas sobre a grafia de «diretor-geral»l aqui e aqui). No entanto, nem o Acordo Ortográfico em vigor nem os seus precedentes definem regras para estes casos, o que fragiliza o consenso à volta da questão. Não obstante, e uma vez que não se encontra dicionarizada a forma «casa-editora», afigura-se como solução a sua grafia sem o recurso ao hífen. 

Pergunta:

Nunca soube muito bem o significado de relativo relativizar. Exemplos: «Aquilo é relativo. Tens de relativizar as coisas!» Julgo que neste contexto a palavra relativizar significa desvalorizar. Estou certo? Agradecia que me ajudassem a ficar mais seguro deste termo que se usa muito no dia a dia.

Resposta:

Nas frases apresentadas o adjetivo relativo significa «que não é tomado em sentido absoluto» (dicionário da Infopédia), e o verbo relativizar significa «tratar (alguma coisa) retirando-lhe o seu caráter absoluto ou independente, considerando-a em relação a outras coisas; tornar relativo» (Ibidem). Atendendo aos seus significados, interpretem-se os seguintes exemplos:

(1) «A importância do que afirmaste é relativa.»

(2) «Relativiza esse problema».

Em (1) afirmamos que aquilo que dissemos tem uma importância inferior àquela que julgamos ou queremos fazer parecer; em (2) mostramos que não se deve dar tanta importância a determinado problema. 

A questão principal que aqui se verifica é que estamos perante palavras de classes diferentes, as quais, no entanto, transportam uma mensagem semelhante. Se por um lado temos um adjetivo, a palavra que qualifica, determina ou relaciona o nome, por outro temos um verbo, ou seja, a palavra que designa uma ação, um processo ou um estado. 

Pergunta:

Gostava de saber se as hashtags em português devem ser acentuadas ou não:

#RepúblicaDominicana

ou

#RepublicaDominicana?

Obrigada!

Resposta:

 Hashtag1 é um termo ou expressão sem espaçamento, antecedido pelo símbolo cardinal (#) e que tem como objetivo direcionar o usuário para uma página de publicações relacionadas com o mesmo tema ou discussão. O seu uso facilita pesquisas que estejam relacionadas com um evento, uma notícia ou um produto, por exemplo, e encontra-se, essencialmente, nas redes sociais FacebookTwitter e Instagram, apesar de o seu uso ter também presença em campanhas e manifestações.

Em relação à questão colocada, verifica-se que não há um consenso nem estudos suficientemente sólidos que sustentem a resposta. Vejamos, no entanto, as conclusões a que chegamos após uma pesquisa:

– A rede social Instagram, por exemplo, mostra-nos que o uso do acento pode ou não ocorrer, ou seja, tanto encontramos #RepublicaDominicana como #RepúblicaDominicana. Percebemos, no entanto, que há uma clara preferência pelo não uso de acentos (ou qualquer outro sinal gráfico): há 5,5 milhões de ocorrências de #RepublicaDominicana e há 485 mil publicações onde consta #RepúblicaDominicana. Note-se que a grafia com e sem acentos nesta rede social cria hiperligações distintas. 

– Na rede social Twitter, plataforma onde surgiram as hashtags, acontece o mesmo que no Instagram, ou seja, encontramos a mesma hashtag com e sem acento. Aqui não conseguimos precisar o número de ocorrências do uso de uma ou outra forma, mas tal não é necessário, porque a hiperligação associada a #RepúblicaDominicana e #RepublicaDominicana é a mesma, ou seja, ao clicarmos nos dois códigos somos reencaminhados para o mesmo conteúdo.

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