Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Não encontro no dicionário a palavra que usamos para definir a caixa de grande armazenamento de frutas, usualmente denominada de "palote" ou "paloxe".

Gostaria por isso que me informassem qual a palavra que devo usar.

Resposta:

No Dicionário Priberam, em linha, encontramos atestado o termo palote, termo com origem obscura, mas que talvez provenha do inglês pallet box. O dicionário em questão define o objeto como sendo um «recipiente grande, padronizado, geralmente de plástico ou madeira, usado para empilhar e transportar materiais, que pode ser movimentado por uma empilhadora». Também o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa regista o termo.

Quanto a "paloxe" (pronunciado "palokse"), o único registo encontrado refere-se a uma marca britânica de palotes, Paloxe, aparentemente criado com base já referida expressão inglesa pallet box. Resta-nos concluir que, à semelhança de outros casos, como gilete, talvez se utilize a marca para definir o objeto que, no entanto, se designa palote de modo mais geral, como sugere a sistemática ocorrência deste último termo em textos com algum grau de formalidade ou especialização (cf. Alexandra Couto Reis, Criação de um Grupo de Produtores de Azeitona para a INDAGROP, tese de mestrado, IPAM, 2017).

Acrescente-se que palote é a forma de outra palavra, com significado muito distinto: trata-se de um sinónimo de paulito, na aceção de «pau pequeno usado em certas danças regionais do norte de Portugal, que dele tomam o nome» (José Pedro Machado,

Pergunta:

É gramaticalmente correta uma expressão como «a amargura do café ajudava-o a...», ou é preferível optar pela expressão «o amargo do café ajudava-o a...»?

Ou ambas estão corretas?

Resposta:

Nas diferentes orações temos «o amargo do café» e «a amargura do café». Em ambas, amargo amargura fazem parte do sujeito das orações e configuram sentido idêntico, ou seja, temos amargo como «sabor acre» (Dicionário da Porto Editora)  e amargura como «sabor amargo; azedume» (idem). Assim, ambas as orações estão corretas e são perfeitamente aceitáveis. 

Note-se, porém, que amargura, em sentido figurado, pode ainda significar «dissabor; aflição ou angústia», o que pode causar estranheza quanto à interpretação da oração, apesar de o significado dado ao termo, em «a amargura do café ajudava-o a...», se prender somente com a qualidade do café. Assim, e dada a ambiguidade que o termo amargura pode causar na interpretação da oração, talvez seja mais seguro optar-se por amargo ou sabor amargo.

Há ainda outro termo possível, amargor. Este termo pode também ele substituir os dois já citados, pois significa «qualidade de ser amargo, sabor amargo» (idem). Note-se que também ele tem sentido figurado de «angústia, amargura» (

Pergunta:

Não encontro dicionarizada a palavra "excitadiço". No entanto, além de me ser muito familiar, tenho encontrado, com certa frequência, alguns autores respeitáveis que a utilizam. Será legítimo?

Agradeço, desde já, a vossa atenção e disponibilidade.

Resposta:

Efetivamente não há registos do adjetivo excitadiço, usado com o sentido de «que se excita ou entusiasma facilmente». Acontece que, apesar de não existirem registos, este adjetivo é perfeitamente aceitável. À semelhança do adjetivo irritadiço, que se encontra registado nos mais diversos dicionários, o adjectivo excitadiço deriva por sufixação de excitado com o sufixo de origem latina -iço. 

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da expressão comummente utilizada pelos mais velhos e pessoas do norte «são mais que as mães».

Resposta:

Nas fontes1 disponíveis não há registo da origem da expressão «mais que as mães». Não podemos, portanto, confirmar que esta locução tenha raízes no norte de Portugal. No entanto, há registo do seu significado no Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, como «grande quantidade de pessoas».    

Guilherme Augusto SimõesDicionário de Expressões Populares Portuguesas, Publicações Dom Quixote: Lisboa, 2000; Sérgio Luís de Carvalho, Nas bocas do Mundo, Planeta: Lisboa, 2010; António Nogueira Santos, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, Edições João Sá da Costa: Lisboa, 2000; Emanuel de Moura Correia et al, Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, Papiro Editora: Porto, 2007.

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra continente é um nome comum ou nome comum coletivo?

Obrigada

Resposta:

Continente, substantivo masculino dicionarizado como «cada uma das extensões ininterruptas da superfície sólida do globo terrestre limitada por um ou mais oceanos (África, América, Antártida, Ásia, Europa e Oceânia)» (Dicionário da Porto Editora, em linha), não é considerado um nome coletivo. Para ser um nome coletivo – «conjunto de objetos ou de entidades do mesmo tipo» (Dicionário Terminológico) – poderia supor-se, por exemplo, que este substantivo significa «conjunto de países», mas tal não se verifica, porque o termo continente denomina não uma entidade política, mas, sim, uma unidade geográfica. Trata-se simplesmente de um nome comum (cf. Dicionário Terminológico).