Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tenho ouvido falar de "cromosoma" e de "cromossoma", tendo também visto ambas as grafias. São ambas consideradas corretas, ou deve-se empregar apenas uma e, nesse caso, qual?

Obrigado.

Resposta:

Não há nenhum registo que ateste a forma “cromosoma” em língua portuguesa, pelo que o correto será empregar o substantivo cromossoma ou cromossomo1quando nos referimos à «estrutura composta de ADN, normalmente associada à proteína e que contém genes arranjados em sequência linear, visível ao microscópio durante a divisão celular» (Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001). Note-se que a grafia deste substantivo em língua espanhola é cromosoma, facto que poderá estar na origem da questão apresentada pelo consulente.

1 Consultando algumas fontes brasileiras, verifica-se que ou se dá preferência a cromossomo, remetendo para esta forma a variante cromossoma (caso do Dicionário Houaiss) ou é cromossomo a única forma registada (cf. Dicionário UNESP do Português Contemporâneo e Guia de Uso do Português, de Maria Helena de Moura Neves).

Pergunta:

Gostava de saber qual foi o processo de formação da palavra hóquei. Empréstimo?

Resposta:

De acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss (2001), o substantivo hóquei («jogo praticado sobre o gelo ou grama em que se enfrentam duas equipas na disputa de uma pequena bola maciça (na grama) ou de um disco (no gelo) que se devem impelir por meio de um bastão recurvado numa das extremidades») é, efetivamente, um empréstimo do inglês hockey. Este substantivo inglês é de origem obscura, sendo que, no entanto, se supõe que provenha do francês antigo hocquet (hoje hoquet), «pau», de formação onomatopaica1 (Machado, J. P., Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1977).

Por formação onomatopaica entende-se a «palavra criada por imitação de um som natural» (Dicionário Terminológico).

Pergunta:

É «raio x», ou «raio-x»?

Resposta:

As duas grafias, com ou sem hífen, estão corretas, a diferença está na semântica. Usamos raio X quando nos referimos ao «raio Roentgen». Este é a «radiação eletromagnética de comprimento de onda compreendido, aproximadamente, ente 10-11 e 10-8 cm» (Dicionário Eletrônico Houaiss) e é capaz de atravessar quase todos os sólidos e radiografá-los inteiramente. Já raio-X, com hífen, é a fotografia ou o exame feito por meio de raio X (Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa ). 1

1Veja-se o blogue Assim mesmo, onde se debate o assunto.

Pergunta:

Se fôssemos escrever, relativamente a Jesus Cristo, este versículo da Bíblia: «... o qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir...», que outras palavras iniciaríamos com maiúsculas, considerando que não era início de frase? «O»? «Qual»?

Resposta:

A Base 45 do Acordo Ortográfico de 1945, que o novo Acordo Ortográfico não alterou, esclarece que «as formas pronominais referidas a entidades sagradas (Deus, Jesus, Maria, etc.) podem escrever-se com maiúscula inicial (ou maiúscula exclusiva, se unilíteras), quando há intuito de lhes dar especial relevo». No entanto, de um dos exemplos apresentados na Base 45 infere-se que as «formas pronominais» se limitam aos pronomes pessoais: «Veneramos O que nos salvou.» Assim, tendo em conta o exposto, o pronome pessoal o, no versículo transcrito, deve surgir em maiúscula, «… O qual Se deu a Si mesmo…», porque é o pronome pessoal que se refere à entidade sagrada.

 

Pergunta:

Já fiz várias pesquisas, mas não encontrei resposta a estas questões.

Carga e carrega são palavras da mesma família? A segunda é uma palavra simples, ou complexa? Qual é o seu radical?

Obrigado.

Resposta:

Carga e carrega são substantivos que partilham o radical carr-1 e, tendo em conta que família de palavras é «o conjunto das palavras formadas por derivação ou composição a partir de um radical comum»2, verificamos que estes substantivos são, efetivamente, substantivos da mesma família. Relativamente à formação do substantivo carrega («bebedeira», «planta poácea dos terrenos pantanosos» e, como regionalismo, «bebedeira» – cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), verificamos que é formado por derivação regressiva ou não afixal, o que faz dele uma palavra simples.

1 carr-: «antepositivo, do latim carrus,i, masculino, e carrum,i, neutro, "carreta de quatro rodas"» (Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001).

2 Dicionário Terminológico