Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2. Com pós-graduação em Edição de Texto, trabalha na área da revisão de texto. Exerce funções como leitora no ISCTE.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual a forma correta: «São inúmeras as vezes em que», ou «são inúmeras as vezes que»?

Resposta:

As duas frases apresentadas pela consulente estão corretas, pois, quando o constituinte relativo tem um valor temporal, é possível cortar «qualquer preposição que, de acordo com a função gramatical do constituinte relativo na oração relativa, deveria introduzir o pronome» (Gramática do Português, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 2128). Assim, dizer «são inúmeras as vezes que como frango» é tão correto como dizer «são inúmeras as vezes em que como frango».

 

Pergunta:

Qual é a diferença entre corrigir e emendar?

Resposta:

Atendendo aos significados dos seus étimos latinos, somos obrigados a concordar que, à primeira vista, os verbos corrigir e emendar são sinónimos. Por um lado, temos o verbo corrigir, que provém do latim corrigĕre, «corrigir, emendar» (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, 1977), e, num sentido figurado, significa «melhorar, reformar, curar; corrigir um orador, um escritor; corrigir, alterar (sem ideia de melhoria)» (idem). Por outro lado, temos o verbo emendar, que tem origem no latim emendāre, «corrigir, apagar erros, retocar, retificar, reformar, emendar; castigar, punir, corrigir» (idem). Além disso, os verbos em apreço são usados atualmente em aceções muito semelhantes, como a seguir se evidencia:

* Corrigir: «dar ou adquirir forma correta ou melhor a; pôr(-se) em bom estado, consertar(-se), endireitar(-se)» (ex.: corrigir o defeito do aparelho), «reparar, remediar (injustiça, agravo etc.)» (ex.: nada corrigirá tamanha iniquidade),  «procurar melhorar ou alterar para melhor a conduta (de); regenerar(-se)» (ex.: corrigir maus hábitos), «repreender com severidade; censurar energicamente» (ex.: corrigiu o filho na frente de todos), «aplicar(-se) pena, castigo (a); castigar(-se), punir(-se)» (ex.: os noviços corrigiam-se com cilícios) (Dicionário Eletrônico Houaiss, Rio de Janeiro: Instituto Houaiss/Objetiva, 2001);

* Emendar: «eliminar erros ou defeitos; corrigir, reformar» (ex.: emendou o texto até deixá-lo perfeito); «fazer alteração em; modificar» (ex.: o governo quer emendar a legislação previdenciária); «corrigir-se moralmente; arrepen...

Pergunta:

Estrofe é um nome comum coletivo?

Resposta:

O substantivo estrofe é um nome coletivo contável, pois designa um «grupo de versos de uma composição poética» (Dicionário Priberam, em linha). Trata-se, portanto, de um caso de «nome que se aplica a um conjunto de objetos ou entidades do mesmo tipo» (Dicionário Terminológico, B.3.1 Classe aberta de palavras/Nome). Chamamos ainda a atenção para o facto de existirem, a par de estrofe, outros coletivos para o substantivo verso, nomeadamente versalhada e versaria (cf. Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Donde vem o termo algarvio griséu?

Resposta:

Não há consenso sobre a etimologia da palavra griséu, que é um regionalismo do Algarve.

Apesar de as ervilhas terem, normalmente, cor verde, há quem considere que griséu («ervilha madura» ou, genericamente, «ervilha») se relaciona com o adjetivo griséu, que significa «cinzento-esverdeado», e que ambas as palavras derivam do adjetivo francês gris, «cinzento» (cf. Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, na Infopédia). No entanto, o linguista português Lindley Cintra (Estudos de Dialectologia Portuguesa, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1983, págs. 109-116) defendeu que griséu, «ervilha», é uma herança do antigo romance moçárabe, falado no Sul de Portugal durante o período de domínio árabe (de 711 a cerca de 1250). De acordo com esta proposta, a palavra teria origem no latim pisellum, dominutivo de pisum, «ervilha», o qual, por analogia com o radical de guisar e por reforço da consoante inicial com r, teria dado *grisel (o asterisco indica que é forma não documentada) e depois griséu, por vocalização do -l final, como acontece historicamente em casos de alternância -el/-éu (vergel/vergéu, chapel/chapéu). 

Pergunta:

Li a resposta Escovar, escovadela, escovagem e escovação, mas gostaria de saber qual a origem do substantivo escova.

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o substantivo escova deriva «do latim tardio scōpa, “vassoura”» (embora o plural scopae, «hastes, raminhos, vergônteas; vassouras», tivesse uso mais frequente). Saliente-se que escova é usado em várias aceções no português atual, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss: um «utensílio usado para limpar, pentear, alisar etc., e que consiste numa placa onde se inserem filamentos flexíveis de cerda, metal, fio sintético etc.»; um «indivíduo maçante, chato» (sentido característico do português do Brasil); e um «condutor que funciona como meio de ligação entre o rotor e os coletores de corrente, em motores ou geradores elétricos, conduzindo corrente para o motor ou coletando a corrente produzida no gerador». O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa acrescenta ainda o significado de «giesta» à palavra em questão, sendo que este é um termo popular que se pode aplicar a vassouras feitas com ramos de giestas.