DÚVIDAS

A vírgula antes de e:
certo ou errado?
Gostava de saber qual o motivo de se proibir a vírgula entre orações coordenadas ligadas por e e que partilhem o mesmo sujeito, quando muitos escritores empregaram e empregam a vírgula nesses casos. Não só não estamos a usar os textos dos grandes escritores como modelo do que deve ser a norma sintática, como também, e pior, estamos a transformá-los num exemplo do que não se deve fazer. Uma criança vai à escola, é penalizada por meter vírgula numa frase como: «O João foi brincar para o jardim, e voltou ao entardecer»; para depois ler um livro e verificar que muitos outros não só fazem o mesmo como ainda são elogiados pela sua prosa. Resultado, começa-se a desacreditar do que se aprende na escola. Idem para enumerações. Idem para os e que são aceites depois do ponto final (no início, portanto, da frase seguinte) e do ponto e vírgula em contextos que não seriam aceites depois da vírgula, apesar de a diferença ser meramente estilística... (Aqui, não se pode fazer, mas nas outras situações já se pode?)
As variantes cetro e ceptro
No fim do período de transição comecei a usar o Acordo Ortográfico de 1990 e, até hoje, que me lembre, no que se refere a consoantes mudas, só tive uma forte discordância com o estabelecido no Acordo: foi a palavra ceptro, em que eu sempre pronunciei o pê e sempre ouvi pronunciar o pê. É claro também que a palavra ceptro é uma palavra sobretudo escrita e muito pouco dita. Ou seja, encontra-se em livros, jornais e revistas, mas usa-se pouco na oralidade. Lembro-me de que a aprendi com o Tintin em O Ceptro de Ottokar. Em 20 de dezembro, a propósito da conquista do Mundial pela Argentina, ouvi na CNN a palavra ceptro com o pê bem pronunciado em: «Messi pegou no ceptro», para significar «a taça», ou algo assim. Creio que, de acordo com as transcrições fonéticas constantes nalguns dicionários, o pê não é pronunciado mas, francamente, e de forma impressiva, acho que é. Já fiz o teste com vários amigos e a opinião largamente generalizada é a de pronúncia do pê. Num universo de umas 12 pessoas, a percentagem deve andar nos 80% a pronunciarem o pê contra 20% a não o pronunciarem. É possível também que, justamente por ser uma palavra mais escrita que dita, possa ter havido alguma corruptela oral da prolação. Podem esclarecer? Obrigado.
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