DÚVIDAS

As variantes cetro e ceptro
No fim do período de transição comecei a usar o Acordo Ortográfico de 1990 e, até hoje, que me lembre, no que se refere a consoantes mudas, só tive uma forte discordância com o estabelecido no Acordo: foi a palavra ceptro, em que eu sempre pronunciei o pê e sempre ouvi pronunciar o pê. É claro também que a palavra ceptro é uma palavra sobretudo escrita e muito pouco dita. Ou seja, encontra-se em livros, jornais e revistas, mas usa-se pouco na oralidade. Lembro-me de que a aprendi com o Tintin em O Ceptro de Ottokar. Em 20 de dezembro, a propósito da conquista do Mundial pela Argentina, ouvi na CNN a palavra ceptro com o pê bem pronunciado em: «Messi pegou no ceptro», para significar «a taça», ou algo assim. Creio que, de acordo com as transcrições fonéticas constantes nalguns dicionários, o pê não é pronunciado mas, francamente, e de forma impressiva, acho que é. Já fiz o teste com vários amigos e a opinião largamente generalizada é a de pronúncia do pê. Num universo de umas 12 pessoas, a percentagem deve andar nos 80% a pronunciarem o pê contra 20% a não o pronunciarem. É possível também que, justamente por ser uma palavra mais escrita que dita, possa ter havido alguma corruptela oral da prolação. Podem esclarecer? Obrigado.
Ditongos crescentes e acentuação gráfica
Estou a ter alguns problemas para distinguir ditongos crescentes. Poder-me-ão dizer se é uma situação normal, dado que são muito instáveis e que há quem os considere falsos ditongos. (Já vi quem defenda serem falsos ditongos, outros, porém, chamam-lhes falsas esdrúxulas. Não sei qual seria a designação apropriada.). O problema é, no momento em que tenho de acentuar graficamente as palavras que os incluem, não sei porque tenho de aplicar a regra. Como posso justificar a acentuação gráfica em palavras como: contrário, mágoa, tábua, nódoa, ténue, árduo, vácuo, polícia, côdea, cárie, aéreo? Ou a sua ausência em: lavandaria ou geometria? Agradeço desde já a atenção e parabenizo o sítio do Ciberdúvidas e o vosso labor extraordinário. Bem hajam!
Uma variante dialetal de semana
Estava ouvindo a música Tempo Ruim de Mandi e Sorocaba, cantores paulistas da segunda década do século XX.Eis um trecho: Eu pegava em dez mirréisE surtia a minha casaPagava tudo vendeiroEm nada eu atrasavaQuando era fim da sumanaMantimento sobejava. Vejam que semana está pronunciado como "sumana". Queria saber se é algo específico do Brasil ou se encontra – ou, no caso, já se encontrou –algo semelhante em Portugal.
A pronúncia do nome da letra y
Estou curiosa para saber as possíveis pronúncias atestadas para a letra y em português europeu (somente). O Portal da Língua Portuguesa traz [transcrição fonética] IPA/AFI [ˈip.si.lõ], com vogal nasal no final da palavra como a pronúncia padrão e não padrão de Lisboa. Eu e meu amigo estávamos discutindo se essa pronúncia estaria competindo com [ˈip.si.lɔn]. Qual a forma ensinada nas escolas em Portugal? Existe variação (que é o que me interessa realmente)? Encontrei dois links relevantes: 1) https://youtu.be/-Zvp8jPSSSI?t=94 2) https://youtu.be/Jlhxs_s2oz0?t=84 São materiais portugueses usados para ensinar o ABC para crianças. As pronúncias são divergentes e para mim atestam variação linguística aceitável. Qual é a opinião dos senhores? Muito obrigada!
A pronúncia de «benza-o Deus»
A minha dúvida gira em torno da expressão «benza-o Deus». Alguns dizem "benzadeus" coloquialmente, outros dizem, tal como encontrei em alguns sites de dúvidas, "benza ó Deus". A minha pergunta é a seguinte: o que realmente significa esta expressão e qual dessas versões [apresentadas] é a  correta? Uma outra dúvida é porque nenhuma leva [a] vírgula do vocativo. Por exemplo, "benza, ó Deus" e "benza-o, Deus". O "ó" junto ao vocativo também é correto se fosse preciso?
A definição de ditongo
[A] propósito da definição, produção e percepção de ditongos, [recebi uma resposta vossa, com exemplos, que]* foi assaz taxativa: «Não sabemos de quem diga que não há ditongos em português.» Ora bem, a meu ver, os exemplos que o(a) prezado(a) consultor(a) listou mais não são que evidentes provas da impropriedade lexical que flutua em torno do conceito ditongo, o qual uso deturpado se generalizou. Em abono da verdade, o Dicionário da Língua Portuguesa – sem Acordo Ortográfico da Porto Editora define ditongo como sendo uma «sequência, numa sílaba, formada por uma vogal e uma semivogal». O verbete enciclopédico da Infopédia vai mais longe, afirmando que o vocábulo inglês fire se pronuncia [‘fajE]. Claro que estas afirmações incorrectas só podem vingar numa língua em que não existem verdadeiros ditongos, mas tão-somente combinações de vogal + semivogal. Nesta linha de pensamento, acresce citar duas fontes: uma informal, extraída de um fórum em linha (1), e outra formal, extraída do Précis de phonétique historique, de Noëlle Laborderie (2). (1) «Ditongos em diferentes línguas? ■ Eu queria tirar uma dúvida: na língua portuguesa, os ditongos são formados pelo encontro de uma vogal + uma semivogal. em [sic] inglês e em outras línguas germânicas, por exemplo, os ditongos, por sua vez, são formados pelo encontro de duas vogais, sendo a mais forte o núcleo silábico. Foneticamente, existe alguma diferença entre os ditongos formados com as semivogais [j] e [w] e as vogais fracas [i] e [u]?» (2) On remarque que y se vocalise (devient voyelle) en iꞈ diphtongal, c’est-à-dire un i qui n’est pas centre de syllabe (…). N.B. – Noëlle Laborderie utiliza o Alfabeto Fonético de Bourciez nas suas transcrições, em oposição com as restantes fontes já citadas. Conclui-se, pelos exemplos dados, que pronunciar [aj] não é o mesmo que pronunciar [aiꞈ], pois só a última transcrição é um ditongo. Para além do mais, em algumas evoluções fonéticas do latim para o francês, dá-se conta da fase em que o encontro de sons era um ditongo e daquela em que, pela consonantização de um dos elementos desse encontro, passou a ser uma sequência de vogal + semivogal. Para concluir, não podia deixar de transcrever algumas correctas definições de ditongo, bem como a certa transcrição fonética de fire – /ˈfʌɪə/ (in Oxford Dictionaries). Oxford «■ a sound formed by the combination of two vowels in a single syllable, in which the sound begins as one vowel and moves towards another (as in coin, loud, and side).» Larousse «■ Voyelle complexe dont le timbre se modifie graduellement une fois au cours de son émission (par exemple en anglais [ei] day, [ou] nose ; en allemand [au], Haus ; enespagnol [ue] muerte; en italien [uo] cuore). [En français moderne, il n’existe plus de diphtongues : les graphies eu, au, ou correspondent à des voyelles simples [ø], [o] et [u].]» [...] * N. E. – O consulente refere-se a uma resposta que lhe foi enviada diretamente, sem ter sido posta em linha no consultório.
Os grafemas "x" e "ch" em aportuguesamentos
Li em tempos, julgo que aqui nas Ciberdúvidas, que o som /x/, em palavras provenientes de línguas que não usam o alfabeto latino, se deve grafar x, e não ch. Assim, a palavra que em inglês se escreve shisha, que provém do persa (designação de um tipo de tabaco e, por extensão, do cachimbo de água com que é fumado), não deverá em português escrever-se "xixa", e não "chicha", como encontro em algumas páginas da Internet? Gostava ainda, caso a primeira asserção esteja correcta, que me indicassem bibliografia para o mencionado preceito de transcrição. Muito grato pela atenção.
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