DÚVIDAS

Dever e tempos verbais: «Todos deviam sair»
Tenho uma pergunta quanto ao uso do verbo dever no pretérito perfeito simples. Ele é muito usado? Pergunto porque numa roda de conversa um amigo disse: «Os donos da casa saíram e todos deveram sair também.» Pela lógica, a frase é gramaticalmente correta, mas confesso que soou estranho ouvi-la. Se tivesse ouvido o «ter de» em vez de dever, não teria soado estranho: «Os donos da casa saíram e todos tiveram de sair também.» Talvez seja porque quase não ouço a construção do verbo dever no pretérito perfeito simples. Por isso, pergunto se é muito usado ou não. Agradeço desde já a atenção dispensada.
Radio-ocultação e radiocultação
Qual das seguintes formas seria a mais recomendada: "rádio ocultação", "radio-ocultação", "radiocultação" ou outra? Trata-se da tradução do termo inglês radio occultation, um fenômeno similar à ocultação astronômica, porém observado através de ondas de rádio ao invés da luz visível. Para comparação, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL) registra rádio-onda e radionda mas radio-oncologia e radioncologia; já o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa registra rádio-despertador e rádio-gravador. Obrigado.
Oração gerundiva: «Tendo em vista que...»
No período «Tendo em vista que os recursos são escassos, devemos economizar», «tendo em vista que» pode ser considerada uma locução conjuntiva, e a oração introduzida por ela, subordinada adverbial causal? Explico minha dúvida: em «tendo em vista que», há um verbo (tendo). Uma locução conjuntiva pode conter verbo? Segundo: não se trata de oração reduzida de gerúndio, pois há um verbo finito no primeiro período (são), então acabei não chegando à conclusão nenhuma. Desde já agradeço pela atenção. Um abraço apertado a todos os irmãos unidos pela língua portuguesa!
Uma vírgula num apólogo de Machado de Assis
Estou intrigado com o seguinte uso da vírgula após o pronome relativa que usado na narrativa "Um apólogo" de autoria de Machado de Assis: «Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:...» Afinal, por que mesmo usar a vírgulas após esse pronome que, se a oração «disse a um novelo de linha» é adjetiva restritiva? Por gentileza, poderiam me esclarecer o motivo de usar a vírgula neste caso? Desde já, agradeço o apoio de sempre.   N. E. – Um apólogo é uma «narrativa em prosa ou verso, geralmente  dialogada, que encerra uma lição moral, e em que figuram seres inanimados, imaginariamente dotados de palavra» (Dicionário Houaiss).
Morfologia: biforme e caça
Tenho algumas dúvidas quanto ao processo de formação das palavras biforme e (o)/(a) caça. Penso que a palavra biforme é formada por composição morfológica, sendo que tanto bi- como -forme são radicais (bi- = «duas» / -forme = «formas»), e seguindo o exemplo de cruciforme (cruci- = «cruz» / -forme = «forma»; «em forma de cruz»). No entanto, algumas gramáticas apresentam bi-/bis- como prefixo de origem latina, apresentando como exemplos bisneto, bimestral, o que me leva a duvidar do processo de formação da palavra biforme. Assim sendo, biforme é um composto morfológico ou palavra derivada por prefixação, ou pode-se considerar os dois processos? Quanto à palavra caça, a dúvida consiste na expressão «o caça». Esta palavra surge descontextualizada num exercício, pelo que creio que o raciocínio de quem o resolve pode levar à consideração de dois processos distintos de derivação, uma vez que tanto a conversão como a derivação não afixal permitem a formação de nomes a partir de verbos. Como classificar o processo da palavra «(a) caça» no par de frases «ele caça muito bem» e «a caça de elefantes é proibida» e da palavra «(o) caça» no par «ele caça muito bem» e «o caça voa a alta velocidade». A minha primeira lógica é classificá-los como conversão, mas serão ambas formadas da mesma forma? Se não, como explicá-lo a alunos de 8.º ano? Obrigada pela atenção.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa