DÚVIDAS

Profanação e desconsagração
Num texto que evoca a história de um edifício destinado ao culto (uma igreja), encontrei os termos consagração/consagrar e profanação/profanar. Exemplos: A cerimónia religiosa de profanação Igrejas e locais consagrados são profanados antes de serem abandonados. A profanação é realizada numa cerimónia religiosa . Em virtude da autoridade que me foi conferida, profano este lugar. Se o termo consagração me remete para um ato pelo qual uma coisa deixa de ser profana para ser destinada ao serviço divino (cf. Infopédia), já o termo profanação parece-me ter uma conotação pejorativa e ser sinónimo de desrespeito ou violação daquilo que é santo, de sacrilégio, de mau uso de uma coisa digna de apreço... Estarei equivocada ao preferir desconsagração (antónimo de consagração) a profanação? Agradecia a vossa prestimosa ajuda para o uso do termo que melhor corresponde ao conceito.
Ordem de constituintes na frase e vírgulas
Eu vejo que na língua italiana há uma liberdade na colocação dos termos nas orações. Parece que o português também concede está possibilidade, mas eu preciso ter certeza disso. Sabe-se que, quando se usam orações do tipo de «O homem matou o dragão», «o homem» cumpre a função de sujeito, e «o dragão», a de objeto. Mas, se se mantiver a mesma estrutura da oração e se também se puser uma vírgula após «o homem», «o homem» cumpriria a função de objeto, e «o dragão», a de sujeito. Até agora vimos a estrutura SVO [sujeito-verbo-objeto] e OVS [objeto-verbo-sujeito], respectivamente. Aí vêm as perguntas: 1.ª Seria possível uma estrutura do tipo VSO [verbo-sujeito-objeto] e VOS [verbo-objeto-sujeito] como, respectivamente, «Matou o homem, o dragão» e «Matou, o dragão, o homem»? (Sem ambas as orações possuírem a retomada do objeto pleonástico) 2.ª Também gostaria de saber se é possível as estruturas SOV [verbo-objeto-sujeito] e OSV [objeto-sujeito-verbo] como se seguem, respectivamente: «O homem, o dragão, matou» e «O dragão, o homem matou»? (Ainda que ambas não sejam retomadas pelo objeto direto pleonástico) 3.ª Gostaria de saber se as vírgulas estão bem empregadas, de tal modo que nos exemplos se justifique o que é sujeito, verbo e objeto? Desde já, meus agradecimentos.
A preposição de + oração de infinitivo: «de comer»
Eu li na gramática de Bechara (2018) que orações reduzidas de infinito como: «Eu estive com fome, e deste de comer.» «Eu estive com sede, e me deste de beber.» são orações adverbiais de finalidade, pois é como se dissesse: «Eu estive com fome e me deste algo para que eu comesse.» «Eu estive com sede, e me deste algo para que eu bebesse.» Mas o que eu gostaria de saber o porquê de estas orações reduzidas de infinitivo virem antecedidas da preposição de e assumirem um valor de oração adverbial de finalidade. O motivo seria por causa do verbo dar + de + (verbo no infinito)? Seria por causa da antonímia entre as palavras que norteiam o período: fome × comer, sede × beber? Eu realmente não sei. Desde já, fico agradecido pela resposta.
Alegoria no Auto da Lusitânia
Na obra Auto da Lusitânia, de Gil Vicente, a abordagem do tópico acima apresentado é lógica na relação de Sol e Lisibea? Coloco esta questão, visto que na obra não surgem grandes indicações quanto a este relacionamento. Aliás, com a leitura da segunda parte da farsa em análise, apenas se sabe que do amor de Sol e Lisibea resulta o nascimento da belíssima jovem Lusitânia... Agradecia um esclarecimento quanto a esta questão!
Ditados e toponímia: «se não fora o Pindo e a Panadeira, todas as velhas iam à Ribeira»
Em qualquer provérbio o que interessa verdadeiramente (creio) é o seu alcance, o seu sentido conotativo. Por vezes, estou também em crer, o seu enunciado, que, duma forma geral ou frequente, tende a ter ritmo e rima, pouco terá a ver com a alegoria para que aponta. E aí é que bate o ponto. Dois exemplos de tais provérbios: 1. «Se não fora o Pindo e a Panadeira, todas as velhas iam à Ribeira» 2. «Acudam Cela, Parada e Outeiro, que arde o centro da religião do mundo inteiro.» Neste último, e na sua vertente denotativa, parece clara a advertência: acuda o mundo todo, mesmo os lugares mais pequenos (na imagem: as três mencionadas freguesias do concelho de Montalegre), porque Roma está em chamas. Já o sentido conotativo da sentença penso que poderá ser o seguinte: perante uma calamidade, uma catástrofe, a congregação de todos os esforços para ajudar a vencê-la não são demais. Ora o enunciado deste, se bem que, à primeira vista, não seja de fácil atinência, sempre se chega lá. Gostava, no entanto, que me confirmassem ou infirmassem o meu raciocínio. Já quanto ao primeiro: Pindo, quanto julgo saber, será o mesmo que Pindelo, nome de vários lugares ou freguesias do nosso país. Panadeira, acho que é uma espécie de tamboril. Dando isto como certo, não alcanço a alegoria. Naquele primeiro ditado é que não vislumbro a conotação que se pretende com os termos do texto. Sei que em muitas sentenças populares, repito, a letra pouco (ou nada) tem a ver com a "careta" (passe o plebeísmo). Sobretudo para o primeiro ditado peço a vossa esclarecida opinião e ajuda. Grato.
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