DÚVIDAS

A sintaxe do verbo contribuir

Na frase «Temos de contribuir para que se limite o aumento da temperatura mundial», há quem diga que «para que se limite o aumento da temperatura mundial» é uma oração subordinada substantiva completiva e desempenha a função sintática de complemento oblíquo.

Queria, contudo, saber como explicar o «para que», porque, nas gramáticas, aparece como uma locução subordinativa conjuncional final, que, por sua vez, introduz orações subordinadas adverbiais finais.

Obrigada pela vossa atenção.

Resposta

O facto de as palavras para e que surgirem seguidas numa frase não significa que estejamos perante uma locução conjuncional. Há que analisar o comportamento das unidades lexicais e verificar se o seu comportamento é compatível com o de uma locução. Um dos procedimentos possíveis é o da comutação de unidades.

Assim, se cotejarmos a frase transcrita em (1) com a frase apresentada em (2), verificamos que o constituinte «a limitação do aumento da temperatura mundial» surge no lugar de «que se limite o aumento da temperatura mundial»:

(1) «Temos de contribuir para que se limite o aumento da temperatura mundial.»

(2) «Temos de contribuir para a limitação do aumento da temperatura mundial.»

Identificamos, em ambas as frases, a preposição para, o que nos permite duas conclusões:

i) se estivéssemos perante a locução «para que» ela teria desparecido em (2), o que não se verificou;

ii) a manutenção da preposição para deve-se à sua relação com o verbo contribuir: ela é, de facto, regida por este verbo.

Vejamos o que acontece se substituirmos o verbo contribuir por outro equivalente, como decidir:

(3) «Temos de decidir que se limite o aumento da temperatura mundial.»

Esta comutação mostra que a oração «que se limite o aumento da temperatura mundial» é uma subordinada completiva do verbo decidir.

No caso da oração «que se limite o aumento da temperatura mundial», presente na frase (1), estamos perante um complemento do verbo, pelo que a oração é também completiva, introduzida pela conjunção subordinativa que, mas esta oração faz parte de um constituinte com a função de complemento obliquo, visto tratar-se de um complemento preposicional, introduzido pela preposição para. Em (2), o constituinte «para a limitação do aumento da temperatura mundial» desempenha igualmente a função de complemento oblíquo.

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