Recomenda-se Santiago quando se trata de nomes de lugar (topónimos), o que não quer dizer que, por tradição ou por registo oficial, não haja casos em prevaleceu a grafia São Tiago.
A consulta do vocabulário toponímico associado ao Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) faculta uma maioria de entradas simples ou compostas com a forma aglutinada Santiago (28 resultados), enquanto São Tiago, relativa à localidade assim chamada no estado Minas Gerais, no Brasil, conta com uma só ocorrência.
Em Portugal, o critério que define Santiago como forma toponímica indiscutivelmente correta encontra-se no ponto 1, c), da Base XVIII do Acordo Ortográfico de 1990 (sublinhado nosso):
c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio [lista de santos], quando importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant'Ana, Sant'Iago, etc. É, pois, correto escrever: Calçada de Sant'Ana. Rua de Sant'Ana; culto de Sant'Iago, Ordem de Sant'Iago. Mas, se as ligações deste género, como é o caso destas mesmas Sant'Ana e Sant'Iago, se tornam perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém. Em paralelo com a grafia Sant'Ana e congéneres, emprega-se também o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final: Nun'Álvares, Pedr'Eanes.
Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc.»
Note-se que estes parágrafos mantêm praticamente inalterado o disposto na norma anterior, a Convenção Ortográfica de 1945 (Base XXXVIII). Acrescente-se também que o Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (1947, p. 270), de Rebelo Gonçalves, era mais claro quanto a vincular a grafia Santiago à escrita de topónimos:
«[...] as ligações Sant'Ana e Sant'Iago [...], empregadas como apelidos de família, como topónimos e como elementos de compostos onomásticos, se escrevem Santana e Santiago, por serem nesses casos unidades mórficas: F. de Santana, ilhéu de Santana, Santana da serra, Santana do Parnaíba; F. de Santiago, Estrada de Santiago, ilha de Santiago, Santiago de Compostela, Santiago do cacém, Vale de Santiago.»
Em suma, Santiago é a forma toponímica que o nome de santo (hagiónimo) Sant'Iago ou Santo Iago assume. Na tradição peninsular, este hagiónimo refere-se geralmente a Sant'Iago, o Maior, cujo túmulo está em Compostela, na Galiza, e sob a invocação do qual se fundaram várias templos em Espanha e Portugal desde a Idade Média, bem como noutros pontos do globo, por via da colonização ultramarina.
Quanto à forma São Tiago, que tem menos favor do ponto de vista normativo, os acordos ortográficos são omissos sem surpresa, visto a diferença entre Santiago e São Tiago dizer respeito a questões de variação fonética e segmentação de unidades morfológicas. Contudo, o Tratado... (ibidem) de Rebelo Gonçalves é, mais uma vez, explícito quanto à questão, pois, ao considerar este autor que, em referência a santos, se pode escrever quer Sant'Ana e Sant'Iago, quer Santa Ana e Santo Iago, anota a exclusão da forma São Tiago, que classifica como uma caso de deglutição, isto é, de reanálise de Sant'Iago como "São Tiago", sequência da qual procede o antropónimo Tiago. Esta forma popularizou-se no mundo de língua portuguesa e legitimou-se, praticamente suplantando a forma vernácula mais antiga, Iago, forma galego-portuguesa (e castelhana) de Jacob.