DÚVIDAS

As frases subordinadas substantivas na nova terminologia

Na vossa explicação que vi sobre a sintaxe na Nova Terminologia detectei que se excluíram inúmeras designações novas que aí surgem e que na minha perspectiva complicam imenso a classificação das orações e alteram inclusivamente o conceito de «subordinada». Só como exemplo surge uma «frase» subordinada substantiva completiva adjectival, cujo exemplo é: Aprendemos um teorema [difícil [de [demonstrar]]] - esta última «frase» («de demonstrar») é assim classificada (B4.2.6.2.3.1 e B4.2.6.2.3.1.1) Um verbo substantivado é um verbo principal?Mais: a haver aqui qualquer tipo de subordinada, qual é a sua subordinante? O adjectivo adquire agora o carácter de oração subordinante??? Pergunto pois se isto é para ensinar aos alunos (tenho um 12.º com exame já com a Nova Terminologia) ou se se trata de algum erro.

Resposta

Compreenderá, prezada consulente, que não compete ao Ciberdúvidas fazer um tratado exaustivo acerca da nova terminologia. Na resposta que refere não foi aprofundada a descrição acerca das completivas, como não o foi acerca das adjectivas ou das adverbiais.Gostaria de referir, de salientar mesmo, que o que a nova terminologia muda são as designações, não as técnicas de análise. Essas, que são o cerne da questão, mantêm-se. E uma oração subordinada é substantiva quando completa elementos que, num dado contexto, são essenciais numa frase. Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, dizem que as subordinadas substantivas podem ser [cito apenas o ponto 4, por ser o que mais directamente se relaciona com a dúvida da consulente]: «4. Completivas nominais, quando exercem a função de complemento nominal: Calipso! Ele tem a mania de que alho faz bem à saúde.» p. 597 Por seu lado, no Curso de Português, Questões de Gramática, Noções de Latim, da Asa, com Depósito Legal de 1986, págs. 243 a 245, diz-se que as orações substantivas podem ser relativas; conjuncionais integrantes, interrogativas indirectas e infinitivas. Cito apenas um dos exemplos de substantivas infinitivas: «O facto de falares francês não justifica a tua atitude.» Os dois exemplos citados ilustram contextos em que uma subordinada completiva depende de um nome que rege a preposição de e que pode vir seguido de uma oração completiva, que completa o sentido desse nome e, consequentemente, da frase em que o nome se insere. Essa oração, ou frase, para utilizarmos a designação da nova terminologia, pode ser infinitiva. A mesma situação acontece com alguns adjectivos, dando origem às completivas adjectivais. Vejamos: (1) Esta estante é difícil de arrumar./Esta estante é difícil de ser arrumada. (2) Estou desejoso de te ver chegar./Estou desejoso de que chegues. A frase em apreço situa-se neste âmbito. Trata-se, efectivamente, de uma frase complexa constituída por uma subordinante e por uma subordinada substantiva completiva adjectival porque o elemento da subordinante que ela completa é um adjectivo que, naquele contexto, rege a preposição de, seguida de um verbo no infinitivo, núcleo de uma frase infinitiva. Repare que é possível colocar o verbo na voz passiva: (3) Aprendemos um teorema difícil de demonstrar. (3. a) Aprendemos um teorema difícil de ser demonstrado. Voltando à frase em análise, representada em (3), proponho a seguinte análise: Frase subordinante – Aprendemos um teorema difícil Frase subordinada – de ser demonstrado (Note-se que a subordinada, por ser completiva, é parte integrante da subordinante, como proponho a seguir) Sujeito – Nós (subentendido) Predicado – Aprendemos um teorema difícil de demonstrar. Predicado simples (ou verbo) – aprendemos Complemento directo – um teorema difícil de demonstrar Modificador adjectival – difícil de demonstrar [adjectivo + complemento preposicional] Complemento preposicional – de demonstrar (preposição + frase) Frase reduzida infinitiva – demonstrar Creio que pode depreender-se do exposto que o conceito de subordinação não sofreu qualquer alteração. Uma frase subordinada continua a ser, de uma forma simplista, aquela que se encontra hierarquicamente dependente de uma outra. Mas, integrando uma frase, não tem, necessariamente, que depender do verbo. E se um nome ou um adjectivo não constituem, canonicamente, uma frase, nada impede que integrem uma e sejam completados por uma outra. Quanto aos seus alunos, dê as completivas como as daria se não houvesse nova terminologia. O nome até nem muda! Cabe a si, como cabe, dramaticamente, a todos nós, diante de uma turma, decidir a que nível de aprofundamento se pode chegar. Oxalá possa chegar bem longe. Bom trabalho!

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa