DÚVIDAS

Colocação pronominal numa oração introduzida por como

«Saiba como proteger-se e proteger a sua casa», ou «Saiba como se proteger e à sua casa»?

Diria que a correta é a primeira, mas não estou certa.

Poderia ainda explicar a razão?

Obrigada

Resposta

As duas possibilidades são aceitáveis.

A colocação do pronome clítico antes ou depois do verbo, em ênclise ou próclise, respetivamente, está relacionada com fatores sintáticos. A posição enclítica corresponde à colocação geral do pronome, ou seja, o pronome é colocado por defeito depois do verbo, ao qual se liga por meio de hífen:

(1) «O João escolheu-o para segurança.»

(2) «O João telefonou-lhe a comunicar a decisão.»

Não obstante, há contextos frásicos que atraem os pronomes para antes do verbo. Esta opção pode ficar a dever-se à presença dos designados atratores de próclise. Entre eles, podemos destacar os seguintes:

(i) advérbio de negação não;

(ii) quantificadores;

(iii) advérbios como bem, mal, ainda, , talvez, apenas, também;

(iv) frases interrogativas ou exclamativas;

(v) conjunções subordinativas.

No caso da frase apresentada, estamos perante uma situação de oração introduzida pelo advérbio relativo ou interrogativo como. Neste caso em análise, trata-se de uma frase que inclui uma subordinada com verbo no infinitivo, o que leva a que tanto seja aceitável a ênclise como a próclise, de acordo com o exemplifica Matos (in Raposo et al., 2013):

(3) «Não sei como lhe agradecer.»

(4) «eu é que não sei como retribuir-lhe a simpatia, senhor tenente-coronel» (CRPC, L. Antunes, Fado)1

Assim sendo, na frase apresentada pela consulente, tanto se pode optar pela colocação do pronome em ênclise como em próclise.

Não obstante, o facto de como em oração como verbo finito (flexionado) ser atrator de próclise poderá levar a que a colocação do pronome clítico antes do verbo seja sentida como mais natural:

(5) «Saiba como se proteger e à sua casa.»

No entanto, esta será, como se disse, uma opção pessoal.

Disponha sempre!

 

1. As frases (3) e (4) são retiradas de Raposo et al. (2013, p. 2283).

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