DÚVIDAS

Conjuntivo/subjuntivo: pretérito perfeito vs. pretérito mais-que-perfeito

Dos meus estudos, há três usos do pretérito perfeito composto do subjuntivo:

(1) Falar de algo que já foi realizado em relação ao passado ou em relação ao futuro.

Passado: (a) Nós não acreditamos que ela tenha feito isso.

Futuro: (b) Vou dar uma volta e volto às 18h. Espero que você tenha terminado de estudar quando eu chegar.

(2) Falar de uma ação que já terminou no passado.

(a) Fiquei triste que você não tenha ido ao meu aniversário.

(3) Falar de uma ação que não temos certeza se foi realizada.

(a) Espero que você ainda não tenha feito a sobremesa, porque o almoço foi cancelado.

A minha pergunta é se existe uma diferença entre o pretérito perfeito composto do subjuntivo e o pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo quando se fala do passado em relação ao passado

Resposta

Os tempos do conjuntivo/subjuntivo são usados sobretudo em orações subordinadas e estabelecem uma relação de dependência com o verbo da subordinante, podendo contribuir para alguma especificidade na interpretação da localização temporal das situações descritas.

O pretérito perfeito composto do conjuntivo/subjuntivo perspetiva a situação como estando concluída. Com verbos volitivos como esperar ou desejar, o pretérito perfeito composto localiza a situação num tempo anterior ao momento de enunciação. Assim, na frase aqui transcrita como (1), a crença é de que o sujeito não tenha feito algo até ao momento em que se apresenta o enunciado:   

(1) «Nós não acreditamos que ela tenha feito isso.»

A mesma relação temporal se estabelece na frase (2):

(2) «Espero que você ainda não tenha feito a sobremesa, porque o almoço foi cancelado.»

Já na frase (3), o pretérito perfeito composto apenas localiza a situação num momento anterior ao momento de enunciação, sem que esteja presente a ideia de um limite temporal:

(3) «Fiquei triste que você não tenha ido ao meu aniversário.

Em (4), a frase inclui um tempo de referência com o qual o pretérito perfeito composto se relaciona. Este é expresso pela oração subordinada temporal «quando eu chegar». Nesta situação é esta oração que introduz o limite temporal para a realização do estudo referido na subordinada completiva. Note-se que, neste, caso, o pretérito perfeito composto refere um tempo futuro relativamente ao momento de enunciação.

(4) «Vou dar uma volta e volto às 18h. Espero que você tenha terminado o estudo quando eu chegar.»

O pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo/subjuntivo, por seu turno, ocorre em frases com o verbo da oração subordinante no imperfeito ou no pretérito perfeito do indicativo. Quando usado com verbos como esperar, também localiza a situação num tempo anterior ao momento da enunciação, mas, ao contrário do pretérito perfeito composto, não tem a capacidade de localizar estas situações num tempo posterior ao momento da enunciação (como acontece com o perfeito composto em (4))1: 

(5) «Esperava que ele não tivesse feito a sobremesa.»

Disponha sempre!

 

1. Para maior aprofundamento destas questões, sugere-se a leitura de Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.538-541.

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