A pergunta foca vários aspetos e, por isso, exige uma resposta repartida que os aborde.
De facto, o género masculino deve ser usado quando se pretende referir um grupo composto por homens, mulheres e, até mesmo, não-binários, uma vez que, de acordo com a gramática, no plural, as formas do masculino são entendidas como não marcadas, tal como afirmam Celso Cunha e Lindley Cintra na Nova Gramática do Português Contemporâneo (p. 250). Por esta razão, embora a gramática tradicional não equacione diferentes géneros como o neutro (tal como ocorre no latim) ou o não-binário, o género masculino é a forma não marcada que denota referentes com géneros diferentes.
Contudo, alguns apologistas da linguagem inclusiva optam por, na expressão escrita, recorrer a sinais como @ ou X quando se referem a um grupo composto por vários membros de diferentes géneros, como por exemplo:
(1) Bom dia a tod@s
(2) Carxs alunxs
Todavia, dada a dificuldade em transpor o uso destes sinais para a oralidade, verifica-se também a opção pelo uso de expressões que recorrem a termos flexionados tanto no género masculino como no feminino, como por exemplo:
(3) Boa tarde, portugueses e portuguesas.
É preciso ter em atenção que o género gramatical nada tem que ver com o género biológico, uma vez que, do ponto de vista gramatical, o género é uma categoria lexical usada para classificar os nomes (p. e., nomes do género masculino; nomes do género feminino; nomes comuns de dois, etc.), sendo que palavras de outras classes (p.e., adjetivos ou pronomes) que estabelecem com o nome relações de concordância, são igualmente marcadas quanto ao valor de género.
No que concerne ao uso de pronomes neutros, não está atestado na língua portuguesa contemporânea o género neutro no sistema de pronomes pessoais, o que sugere que formas como “elu”, “elus” ou outras são criações recentes na língua, muitas vezes pontuais, assistemáticas e, portanto, geralmente ausentes dos dicionários. Não obstante, recentemente, o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo (Brasil), aquando da sua reabertura, utilizou-se o vocábulo “todes” como forma de defesa de uma linguagem mais inclusiva. Também, há relativamente pouco tempo, o dicionário francês Le Petit Robert causou polémica por introduzir o pronome neutro “iel” na sua edição em linha de outubro de 2021.
Contudo, é preciso ter consciência que a criação e introdução consciente e planeada de pronomes neutros em línguas como o português tem ainda um longo caminho a percorrer. Havendo uma mudança social, parece inevitável que a língua evolua de modo a dar conta dessa mudança. Apenas o tempo dirá se pronomes neutros como “elus” passam a ter uso extensivo e chegam a ser normativos.