DÚVIDAS

O particípio passado do verbo abrir

Recentemente, tive dúvidas relativamente ao uso do(s) particípio(s) passado(s) do verbo abrir, pelo que consultei uma gramática da Porto Editora, na qual se dizia que os particípios regular e irregular — abrido e aberto — deviam ser usados, respectivamente, com os auxiliares ter/haver e ser/estar.

No entanto, no vosso site, deparei-me com informação contrária. Segundo a dra. Conceição Saraiva, o verbo abrir tem apenas um particípio passado — aberto.

O particípio passado abrido está, de facto, errado? Ou simplesmente está a cair em desuso?

Obrigada!

Resposta

Está correcta a informação constante da resposta citada pela consulente.

Aliás, a este propósito, Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 440, são muito claros: «Há alguns verbos da 2.ª e da 3.ª conjugação que possuem apenas particípio irregular, não tendo conhecido jamais a forma regular em -ido. São os seguintes: dizer/dito; escrever/escrito; fazer/feito; ver/visto; pôr/posto; abrir/aberto; cobrir/coberto; vir/vindo

No entanto, para que não reste qualquer tipo de dúvidas relativamente a esta matéria, os referidos gramáticos complementam ainda a informação transcrita com a seguinte observação a propósito do vocábulo desabrido: «Desabrido não é particípio regular de desabrir, mas forma reduzida de desaborido, "sem sabor", provavelmente de origem espanhola. Usa-se apenas como adjectivo, na acepção de "rude", "violento", "descontrolado" [cf., por exemplo, Dicionário Priberam e Dicionário Houaiss]. Assim: atitude desabrida; discurso desabrido; palavras desabridas; ventos desabridos» (op. cit., p. 440). Deste modo, à semelhança do que acontece com o verbo abrir, o particípio passado do verbo desabrir («Soltar, desistir de; desavir-se, malquistar-se...» — Priberam; Infopédia) é desaberto.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa