O verbo estar, na frase apresentada, é um verbo copulativo. O constituinte «num cofre» desempenha a função sintática de modificador.
Para identificarmos a classe de um verbo, importa, à partida, saber que estes se organizam em três subclasses: verbos principais, verbos copulativos e verbos auxiliares:
(i) os verbos principais caracterizam-se por determinar o número de argumentos (complementos) que incluem no seu predicado e por selecionar (ou não) sujeito;
(ii) os verbos copulativos são usados para atribuir uma propriedade ao sujeito ou para descrever um estado do sujeito (cf. listagem aqui);
(iii) os verbos auxiliares combinam-se com um verbo nuclear de forma a construir um valor de tempo, de modo ou de aspeto (incluem-se entre estes verbos ter, ser, ir, haver (de), estar (a), andar (a), acabar (de, poder, dever, ter (de/que), entre outros).
Os verbos principais, quando selecionam o sujeito, selecionam também alguns traços semânticos que este deve possuir. Por exemplo, o verbo amar, se usado em contexto não metafórico, seleciona um sujeito [+humano]. Daí a estranheza da frase (2) face a (1):
(1) «O João ama a Rita.»
(2) «?O livro ama o João.»
Assim, um dos critérios para identificar um verbo copulativo passa pelo facto de este não selecionar sujeito, pelo que poderá combinar-se com sujeitos com diferentes traços semânticos:
(3) [+humano]: «O João está feliz.»
(4) [+animado]: «O cão está cansado.»
(5) [-humano]: «A casa está protegida.»
No caso das frases copulativas, o constituinte que determina o tipo de sujeito é o predicativo do sujeito e não o verbo. A estranheza das frases seguintes acontece pela incompatibilidade semântica entre o predicativo e o sujeito:
(6) «?O João está guardado.»
(7) «?A casa está feliz.»
Um outro critério que permite identificar os verbos copulativos prende-se com o facto de estes se combinarem com adjetivos, no que se distinguem dos verbos principais, que, na sua maioria, não se combinam apenas com um adjetivo.
O verbo copulativo combina-se também com particípios usados como adjetivo. Normalmente, a combinação do verbo copulativo estar com um adjetivo formado a partir de um particípio expressa o resultado final de uma ação. Por exemplo, em (5), o resultado da ação de proteger é a de a casa «estar protegida», o que se perspetiva como uma ação já concluída, finalizada.
Pelo que ficou exposto, se consideramos a frase apresentada pelo consulente, aqui reproduzida em (7):
(7) «O livro está guardado num cofre.»
observamos que o verbo estar não seleciona sujeito e pode coocorrer com qualquer tipo de sujeito, acompanha um adjetivo formado a partir de um particípio e, conjugado com o adjetivo, expressa uma ação que configura um estado finalizado. Fica, deste modo, comprovado que estamos perante um verbo copulativo1.
Finalmente, o constituinte «no cofre» pode ser interpretado como um complemento do adjetivo guardado, pois recupera a estrutura argumental do verbo («guardar nalgum local»).
Disponha sempre!
? Assinala a estranheza das frases.
1. A descrição do comportamento dos verbos copulativos pode ser aprofundada em Raposo et al., Gramática do português. Fundação Calouste Gulbenkian, sobretudo pp. 1301-1304 e a descrição do comportamento particular do verbo copulativo estar em ibidem, p. 1309-1310.
N. E. (30/04/2019) – Foi alterado o último parágrafo da resposta.