DÚVIDAS

«Ter que» vs. «ter de»

Professor de Português, sempre ensinei aos meus alunos a diferença entre «ter de» (ter necessidade de) e «ter que» (ter alguma coisa para), defendendo, como Edite Estrela e Rodrigo Sá Nogueira, que a utilização mais frequente de ter que» está incorrecta. «Todos temos que fazer sacrifícios» – afirma o Chefe do Governo vezes sem conta. Há umas semanas atrás, li algures que, indiferentemente dos contextos, podíamos dizer «ter que» ou «ter de». Segundo este ponto de vista, a frase do Eng. José Sócrates estaria gramaticalmente correcta. Quanto ao politicamente correcto, nem me quero pronunciar... É mesmo assim? O meu muito obrigado, desde já.

Resposta

De facto, a tradição gramatical tem insistido em ter de como a expressão correcta para referir a necessidade ou a obrigação.

Contudo, a forma ter que começa a ser registada até por lexicógrafos como sinónima de ter de. Por exemplo, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa observa que «modernamente, na língua, tem-se us[ado]. o snt. ter que + infinitivo, no qual esse que tem valor como que prepositivo, em lugar do castiço ter de + infinitivo».

Do mesmo modo, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, aceita ter que como variante de ter de.

Pessoalmente, prefiro ter de, até porque me poupa problemas ao nível da eufonia frásica (não é melhor escrever «tenho de esquecer que o tempo passa» em vez de «tenho que esquecer que o tempo passa»?) No entanto, tenho de reconhecer que o uso de ter que está praticamente legitimado – a não ser que haja uma reacção a esta tendência.

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