Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: História da língua
Antonio Filipe Estudante Brasil 1K

Em Auto de Filodemo, de Luís de Camões, há uma passagem coloquial assim:

«Dionísa: Cuja será? Solina: Não sei certo cuja é.»

Em linguagem hodierna, seria mais comum ouvir/ler «de quem será?», «não sei certo de quem é».

Esse uso de cujo lembra-me o uso de cujus no latim:

Cujus filius Marcus est? («De quem Marcos é filho?»)

Em seu livro, Tradições Clássicas da Língua Portuguesa, o Padre Pedro Andrião diz ser possível tal uso e dá-nos uma lista grande de exemplos nos autores clássicos, desde Camões, Sá de Miranda, a Garrett, Camilo etc.

Pois então, vos pergunto, que recomendam? É lícito o uso?

Fernando Fernandes Professor Lisboa, Portugal 1K

Contacto-vos a propósito de uma questão que tem sido recorrente no âmbito da minha prática letiva. A propósito da evolução fonética, particularmente no processo de assimilação, tenho visto em alguns manuais ser usada como exemplo a evolução de ad sic para assim ou de ipse para esse, assumindo-se assim que, em ad sic o fonema /d/ evolui para /s/ e, em ipse, o mesmo se passa com o fonema /p/.

A minha questão é simples: tratando-se de evolução fonética – e de fonemas, portanto – não seria mais correto considerar-se que em ambos os casos ocorre uma síncope? A duplicação da consoante s advém, a meu ver, de uma convenção ortográfica, até porque, efetivamente, não pronunciamos o fonema /s/ duplicado.

Gostaria de saber a vossa opinião, que muito respeito, em relação a este tópico.

Grato pela vossa disponibilidade.

José António Souto Professor Santiago de Compostela, Galiza 1K

Existe algum argumento real para justificar que rainha, moinho ou buinho não levem acento, mas que o devamos colocar sobre faúlha, suíno ou raízes?

Ou então diga-se claramente que é uma exceção arbitrária que temos de seguir.

Sávio Christi Ilustrador, quadrinista, autor literário, pintor e youtuber Vitória (Espírito Santo) , Brasil 986

Se, de belo, vem beleza, por que de natural, não vem "naturaleza"?

Qual o real motivo da supressão de duas das letras do meio? Em espanhol, é naturaleza!

Fiz a busca no Google, até pelo site de vocês, mas a resposta não me apareceu!

Obrigado.

Lucas Tadeus Estudante Mauá, Brasil 894

Estava lendo Marília de Dirceu [de Tomás António Gonzaga] e me deparo com este verso:

«O mesmo, que cercou de muro a Tebas.»

Que eu saiba só tem duas regência o verbo em questão:

1) Cercar algo DE.

2) Cercar-se DE.

Gostaria de saber se a regência do verbo é outra (Cercar A algo DE) ou se Tebas é de gênero feminino.

Antonio Lima Professor Bonito-PA, Brasil 1K

A respeito da origem da nasalidade em mui/muito, José Joaquim Nunes, no seu Compêndio de Gramática Histórica (1975[1911]), afirma o seguinte:

«embora MUI e MUITO sejam formas clássicas, nas cantigas 38 e 453 do Cancioneiro da Ajuda [séc.XIII], aparecem já nasaladas, como mostram as grafias MUYN e MUINTO donde se conclui não se moderna na língua a nasalização(...).»

Já o gramático Said Ali, na sua Gramática Histórica da Língua Portuguesa (1964[1931]), pensa diferente:

«No extraordinariamente usado MUITO , foi tão tardia a mudança, que o cantor d'Os Lusíadas [séc. XVI] ainda podia dar-lhe para rima FRUITO e ENXUITO. Não se sabe a data da alteração definitiva, porque em MUITO e MUI nunca se assinalou – caso único – a vogal nasal pela escrita. Que em português antigo se pronunciava a tônica como U puro e fora de dúvida, porque, em caso contrário, não lhe faltaria o til, sinal tão profusamente usado naquela época.»

1) O Cancioneiro da Ajuda é do séc.XIII, e Os Lusíadas do séc. XVI, qual dos estudiosos está certo ?

2) Há atualmente consenso entre os estudiosos a respeito de um período específico sobre o começo da nasalidade em mui e muito?

Grato pela resposta.

Antonio Silva Analista informático Almada, Portugal 1K

Sou um apaixonado pela linguística, nomeadamente no que diz respeito à língua portuguesa. Nesse âmbito, um dos temas que mais me intriga é o betacismo.

Gostaria de obter um esclarecimento (se possível) sobre um subtema (julgo eu) dentro desse fenómeno:

1) A nossa língua numa determinada fase, “recuperou” o uso da sua componente fonética “v” nas palavras com a letra “v”, contrariamente ao que ocorreu nas restantes línguas da península. Seguem exemplos (português, latim, castelhano): vinho = vinum, vino; veterano = veteranus, veterano; voar = volare, volar, etc.

2) Por outro lado, numa outra (!?) vertente desse fenómeno parece ter havido total conversão do “b” em “v” tanto na sua componente fonética como na escrita. Ex: livro, liber, libro; olvidar, oblitare, olvidar; palavra, parabola, palabra,  etc..

Se o primeiro me parece lógico no contexto do dito fenómeno dentro na evolução do latim, como se explica o segundo ponto desse fenómeno (se é que estão relacionados) ?

Provavelmente a questão será absurda, mas se considerarem que merece algum tipo de resposta…

Grato pela atenção.

Lucas Tadeus Oliveira Estudante Mauá, Brasil 2K

Donde surgiu a forma «tomara que...»?

Vi o uso «tomaras tu poder...», uso este que não conhecia desta forma.

Geralmente compara-se este tempo com sua forma composta, o que é bem mais fácil de entender.

«Tomara que possas» é a forma contemporânea de «tomaras tu poder»?

João Celindo Professor Guarda, Portugal 1K

O Dicionário Houaiss data a palavra lusíada de 1530, ou seja, quarenta anos de Luís de Camões ter publicado Os Lusíadas.

Que uso teve a palavra até à publicação da epopeia?

O mesmo dicionário data a palavra lusitano de 1572, a data de Os Lusíadas. Parece estranho que lusíada tenha surgido antes de lusitano. Há um explicação para tal?

Lucas Tadeus Oliveira Estudante Mauá, Brasil 1K

Vi no dicionário do Google que quisto era particípio passado de querer. Quando é que o suplantou o particípio querido?