DÚVIDAS

Ainda o plural de Pai Natal

«Nesta denominação, o vocábulo Natal é adjectivo. Ora, como o adjectivo tem de concordar com o substantivo, o plural só pode ser Pais Natais» (José Neves Henriques).

Por que razão o vocábulo natal não pode ser, aqui, um substantivo? Nesse caso, considerando natal um determinante específico do substantivo pai (Nova Gramática do Português Contemporâneo, substantivos compostos), o plural de pai natal seria pais natal, como em navios-escola.

Não se passa o mesmo em decreto-lei?

Resposta

A variação da língua é constante e nota-se, sobretudo, a nível lexical. A expressão pai natal, por exemplo, é nova na língua e nova na manifestação cultural que exige a sua flexão. Com efeito, a expressão lexicalizada Pai Natal remete para a figura característica que povoa o imaginário infantil. A par desta figura, ultimamente representada por um velho de barbas brancas e vestes vermelhas, surgem, por ocasião do Natal, figuras que a representam e lhe tomam o nome: os pais natais. É relativamente ao aparecimento, múltiplo, destas figuras que se torna necessário utilizar o plural. Mas como proceder?

A palavra natal é, simultaneamente, adjectivo e substantivo, ou nome. Como adjectivo, utiliza-se em expressões como «terra natal», atribuindo ao substantivo a característica de ser o local onde determinado nascimento ocorreu; como substantivo, utiliza-se para designar o dia do nascimento de alguém, sendo nome próprio quando se refere ao nascimento de Cristo.

No caso da expressão lexicalizada pai natal, não é consensual a classificação de natal, havendo quem a considere adjectivo, como ocorre no Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, e quem defenda que se trata de um nome. Independentemente de se tratar de um nome ou de um adjectivo, considero que o plural é pais natais. Se aceitarmos que natal é um adjectivo, estamos a fazer a concordância esperada entre o nome e o adjectivo. Se considerarmos que natal é um nome, deve igualmente seguir-se a regra geral de concordância, pois o segundo nome não especifica o primeiro, ou seja, não estamos perante uma expressão que acumule o sentido de pai com o de natal, na qual este restrinja aquele.

No caso de navio-escola, por exemplo, ao conceito navio associou-se o conceito escola que restringe, no universo dos navios, um conjunto mais reduzido: o dos que são, simultaneamente, navios e escola. O plural acontece apenas no primeiro dos nomes: navios-escola. Creio que dificilmente se poderá elaborar um raciocínio semelhante no caso de pai natal. Poderíamos, simplificando, perguntar que tipo de pai é um pai natal?...

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