Fica aqui feita a proposta. Observe-se que este neologismo é constituído por uma amálgama, isto é, a associação de partes de outras palavras numa só palavra (inti-, de intimidar + -milhação, de humilhação). Não sei que fortuna pode ter esta nova palavra; sei é que há casos de amálgama (ver Margarita Correia e Lúcia San Payo Lemos, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Colibri, 2005, pág. 44), como credifone (< «crédito para o telefone») e telemóvel (< «telefone móvel»), que mantêm certa transparência decorrente de necessidades comerciais; por outro lado, outras amálgamas existem, à semelhança de setor (< «senhor doutor»), que resultam da distorção de uma sequência de dois vocábulos e da sua generalização na comunidade escolar portuguesa, num processo colectivo semelhante ao que aconteceu com a formação de você (< «vossa mercê»). Fora destes âmbitos, e num plano criativo mais restrito ou de iniciativa individual, a criação de neologismos costuma ser criteriosa e lança normalmente mão de radicais gregos e latinos, formando compostos morfológicos, de acordo com certas regras, que não são acessíveis ao grande público.
Mas, concordando com o consulente quando este diz que o português deve saber usar os seus recursos, dou também a minha achega: e que tal empregar palavras já existentes? Poderíamos pensar em «assédio escolar», seguindo o exemplo francês, que, para traduzir bullying, criou a expressão «harcèlement scolaire» (= «assédio escolar; cf. Dicionário Francês-Português da Porto Editora); sucede, contudo, que assédio adquiriu conotações sexuais, por causa de «assédio sexual». Mas, procurando outros vocábulos, deparo com acossamento (ver Dicionário Houaiss), que se me afigura uma boa alternativa1. Proponho assim a seguinte expressão: «acossamento escolar».
1 Agradeço a Miguel Roque Dias a sugestão do verbo acossar para traduzir bullying, enquanto forma do verbo to bully. Como o gerúndio inglês (forma em -ing) é usado quer como forma verbal quer como forma nominal, a existência de acossamento permite um certo paralelismo em português, mantendo o mesmo radical (acoss-) para a designação do conceito. Quanto à designação daquele que acossa (que faz bullying ou que é bully), parece aceitável a solução rufia, tal como a encontramos recuperada num texto de Rui Zink.
Cf. Bullying + Bullying: o que é? O que é o bullying? + Falar sobre o Bullying + Bullying e Ciberbullying