DÚVIDAS

A pronúncia dos dígrafos latinos (Caesar)

Em primeiro lugar, grande júbilo pela continuação e um brinde à saúde e longa vida do CD!

Lendo a muito clara explicação fonética, dada a propósito de «A pronúncia de táxi», lembrei-me de que sempre me confundiu o facto de os dígrafos 'ae' e 'ti' em latim (que, infelizmente, já não aprendi formalmente no liceu), se lerem /é/ e /si/, quando, se se consultar qualquer gramática de latim, a pronúncia recomendada (pronúncia reconstruída) é /ti/ e /ai/. Mais, sendo o "c" sempre explosivo, p. ex. a palavra "Caesar", que veio a caracterizar os imperadores, não deve ser lida "sézar", como usamos fazer, mas "kaizar", precisamente à alemã... (ou aproximadamente à russa, "kzar").

Alguma luz sobre estas discrepâncias?

Obrigado.

Resposta

César revela a chamada pronúncia tradicional do latim em Portugal. No latim clássico dizia-se mais ou menos /Kaissar/, utilizado em alemão ("Kaiser") para dizer «imperador», em português czar, forma consagrada pelo uso (a correcta seria tçar, como aproximadamente em russo, com ts e não cz). Voltando ao latim, ti também na pronúncia restaurada soa sempre com t, sendo que na tradicional o ti vale, de facto, ci, antes da vogal. Lá por 1938 começou a usar-se entre nós, nas igrejas, a pronúncia tradicional italiana, com, por exemplo, ce e ci a proferir-se com tch em vez de ss.

Quanto ao ae, também no latim clássico não valia realmente de e, mas era um ditongo, que no latim vulgar se monotongou.

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