Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.

A consulente Rute R. perguntou ao Ciberdúvidas:

«Agradecia que me esclarecesse qual é a função sintática de «que estou ouvindo a S. Mateus» em «Parece-me que estou ouvindo a S. Mateus, sem ser apóstolo pescador, descrevendo isto mesmo na terra».

Sandra Duarte Tavares respondeu que é complemento direto:  «Parece-me + complemento direto».

O professor Virgílio Dias discordou, sustentando «A inaceitável hipótese transitiva do verbo parecer».

V. ACONTECER

(1)    Aconteceu uma tragédia.

(2)    Aconteceram várias tragédias.

(3)    Aconteceu que ela abandonou os filhos.

O v.  acontecer é um verbo de um lugar, i.e., seleciona apenas um argumento, o qual desempenha a função de sujeito (veja-se a concordância em 2). Este pode ser nominal (cf.1 e 2) ou frásico (3).

V. HAVER

(4)    Houve uma tragédia.

(5)    Houve várias tragédias.

(6)    * Houve que …

 

«Acabar com o Euronews em português seria um facto absolutamente incompreensível – apenas por inadvertência. Ou, o que seria pior, por capricho desastroso.» Artigo do deputado português [in Público de 18/01/2012], que volta a um tema já anteriormente abordado por ele próprio.

1. Está em crescimento contínuo desde o começo em 1993, com serviços em cinco línguas: inglês, espanhol, francês, alemão e italiano.

 

Não obstante as respostas e outros textos, aqui no Ciberdúvidas, continuo a ver utilizado — na televisão, em particular — o termo encarregue, como se encarregar fosse um verbo de duplo particípio. Por exemplo: «O detetive foi encarregue de seguir o suspeito», ou «O detetive foi encarregado de seguir o suspeito»? João Carlos Amorim (Reformado) Lisboa Portugal 

O verbo encarregar não tem particípio passado irregular. Logo: «O detecive foi encarregado de seguir o suspeito.»

A decisão de a RTP deixar de garantir o financiamento da emissão em português no único canal de televisão europeu colocaria Portugal «não na segunda, mas na terceira divisão da competição linguística europeia, atrás, pelo menos, de 12 outras línguas» escreve, e insurge-se, o presidente da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, do parlamento português. Artigo publicado no jornal Público de 28/11/2011.

O que Virgílio Dias (V. D.) põe em causa é apenas a aplicação do termo «predicativo do sujeito» a um dado constituinte sintáctico, e não a existência deste. A questão é, portanto, de natureza terminológica, porque não vejo diferença entre a análise que V. D. faz das várias frases que apresenta e as que, tendo por objecto as mesmas frases, podem decorrer da gramática tradicional ou de certas abordagens da investigação linguística.

A respeito de uma resposta de Carlos Rocha, o consulente Virgílio Dias contesta o uso aí feito do termo gramatical «predicativo do sujeito», nos seguintes textos:

Sobre o predicativo do sujeito (Virgílio Dias) I

Os predicados secundários ou predicativos

Carlos Rocha dá réplica em:

Sobre o predicativo do sujeito (Carlos Rocha) II

Por Virgílio Dias

Em apoio do comentário em que contesta o uso do termo gramatical «predicativo do sujeito» para designar o constituinte que forma predicado com um verbo copulativo, o consulente Virgílio Dias enviou o estudo que a seguir se apresenta (manteve-se a numeração original). Toda a controvérsia aqui.

222Predicado é aquilo que se diz a respeito do sujeito.

Na frase:

João comprou um caderno.

— falamos de João.
— acerca do João diz-se: comprou um caderno

«João» é o sujeito
«Comprou um caderno» é o predicado

Por Virgílio Dias

Acabo de ler a [...] análise [de Carlos Rocha], que transcrevo:

«"O caminho fica longe."

sujeito: "o caminho"

predicado: "fica longe"

predicativo do sujeito: "longe"

Atenção, que, numa perspectiva tradicional, há gramáticos que atribuem ao advérbio longe a função de complemento circunstancial de lugar.»

Comentário:

Por Virgílio Dias

1. Quem é um pronome indefinido que tem usos relativos e interrogativos.

Como relativo, quem implica sempre um antecedente que se pode apresentar expresso ou semanticamente incorporado. Por isso, o relativo quem nunca pode estar na origem de orações substantivas.