Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.

Em consulta de Isabel Santiago, respondida em 19/4/2012, o Prof. Virgílio Catarino Dias afirma que:

«[O] se pode ser sujeito em orações reduzidas» – e, nesse caso, terá de admitir predicativos. Será verdade? Tentemos: «João declarou-se capaz de falar em público.» Representemos graficamente: – «O João declarou [-se capaz de falar em público]»: «o João declarou [que ele mesmo era capaz de falar em público].» Notemos a oração entre...

Réplica do autor à divergência do consulente João de Brito, O predicativo do sujeito, os modificadores e o «se.

 

Li muito atentamente os seus reparos, e eu vou reparar bem neles, de início, a partir do nº.3 e, mesmo no final, não descurarei o nº.1.

E reparei, antes de mais, na sua afirmação inicial:

«Tal como se conhece, o predicativo do sujeito integra sempre o predicado».

Não deveria ter escrito «como se conhece», mas «como eu o conheço» — o que faz uma diferença muito grande.

Na frase «Não se embarca tirania neste batel divinal», o termo tirania é o sujeito.

Trata-se da realização da voz passiva em português com a partícula apassivante se. No Dicionário Terminológico, é referido o emprego da partícula se como «marcador de uma estratégia de passivização (valor passivo – ocorrendo exclusivamente na terceira pessoa)», sendo dado o seguinte exemplo: «Dizem-se coisas estranhas neste país.»

Por Virgílio Dias

[Sobre a reposta de Sandra Duarte Tavares, A função sintática de tirania:]

Não há justificação nenhuma para imaginar que, na frase «não se embarca tirania neste batel divinal», «tirania» seja complemento directo.

O «se» só pode ser sujeito em orações reduzidas. Bem sei que há uma gramática de referência que autoriza tal interpretação. Mas… aliquando dormitat Homerus.

A propósito desta controvérsia [sobre a função sintática da palavra tirania na frase de Gil Vicente «Não se embarca tirania neste batel»] mantenho-me firme na minha convicção de que estamos perante um caso de ambiguidade entre a função de sujeito e a de complemento direto, dependendo da interpretação do se.

Os argumentos aduzidos por Maria Regina Rocha têm muita validade e eu não discordo de nenhum deles. Mas…

Se os analisarmos com atenção, todos os exemplos dados estão no plural:

A consulente Sofia Carreira perguntou ao Ciberdúvidas:

«Na frase de Gil Vicente "Não se embarca tirania neste batel divinal», a palavra tirania parece-me óbvio ser um complemento direto. Mas há quem defenda que se trata do sujeito (que eu consideraria nulo indeterminado). Será que nos poderiam esclarecer?»

A propósito de uma resposta sobre «Análise de "Veja(m)-se) as seguintes", a consulente Ludmilla Gagnor Galvão manifesta a sua estranheza e apresenta a sua opinião, dizendo:

Na consulta a Sandra Duarte Tavares, em 14/02/2012, sob o título Análise de «Veja(m)-se as seguintes...», estranhei a resposta. No Brasil só admitimos o plural, considerando que se trata de voz passiva analítica, em que o sujeito é «as seguintes», e a partícula se é pronome apassivador.

Por Virgílio Dias

Texto do autor, discordanado da respostas Análise de «Veja(m)-se as seguintes e Ainda «Vejam-se as seguintes», de Sandra Duarte Tavares.

 

 

Por Virgílio Dias

1.Verbo modalizador e copulativo

O verbo parecer apresenta claros traços de modalizador: ele revela uma atitude hesitante ou duvidosa do sujeito.  Para quem tem dúvidas, ou é tímido, as coisas não são: parecem.

Mas Manuel Bana saudou-o de longe e pareceu-lhe reservado (V.Nemésio, Mau Tempo…, p.124)

Procurei até a D. Carolina Amélia, que não ia longe disso…Depois pareceu-me virada (idem, 155)

Embora haja autores que equacionam a possibilidade de o verbo parecer, em frases destas, seleccionar um complemento directo (e não um sujeito), como não são referidos argumentos que justifiquem a categorização do verbo parecer como transitivo directo, considero que, na frase «Parece-me que estou ouvindo S. Mateus.» (reduzi a frase original ao essencial), a oração «que estou ouvindo S. Mateus» desempenha a função sintáctica de sujeito do predicado «parece-me».