Pergunta:
Na frase «ele mora em casa com a mãe», é correto assumir que contém dois complementos oblíquos ou há um complemento oblíquo (CO) e um modificador do grupo verbal (GV)?
Neste caso, como determinar o CO e o modificador, uma vez que qualquer um pode ser utilizado para termos uma frase gramatical, não sendo, para isso, necessário o uso dos dois?
Grata pela atenção.
Resposta:
Sem um contexto que esclareça a intenção do locutor a frase é ambígua quanto ao seu sentido de base. Desta forma, qualquer um dos constituintes poderá desempenhar a função de complemento oblíquo. A identificação desta função está diretamente dependente da significação do verbo e da situação descrita na pergunta1.
O verbo morar é considerado um verbo locativo porque inclui o traço [+ locativo] e, habitualmente, seleciona um constituinte que refere um lugar onde se localiza o sujeito, como em (1):
(1) «O João mora em Leiria.»
Nesta perspetiva, por defeito, o constituinte «em casa» será o complemento oblíquo do verbo, desempenhando o constituinte «com a mãe» a função de modificador do grupo verbal.
Todavia, o verbo morar poderá ser utilizado com o sentido de ‘compartilhar moradia; viver com’. Com este uso, o verbo rege a preposição com, como se verifica em (2):
(2) «O João mora com os amigos.»
Se, na frase apresentada pela consulente, o verbo morar for usado com este sentido de base, consideraremos que o constituinte «com a mãe» desempenha a função de complemento oblíquo, ao passo que «em casa» passará a ser o modificador do grupo verbal.
Em síntese, importa determinar se o verbo se completa com um argumento locativo, denotador de localização espacial, ou se completa o seu sentido com um argumento de companhia. Será esta interpretação que determinará a identificação das funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes que acompanham o verbo.