Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «custou ao aluno entender a lição», qual é o sujeito?

Obrigada.

Resposta:

Na frase em apreço, o sujeito é a oração subordinada substantiva completiva não finita «entender a lição».

Uma oração com função de sujeito surge tipicamente depois do verbo e é substituível pelo pronome neutro isto / isso, o que acontece neste caso:

(1) «Isto custou ao aluno.»

O verbo custar pertence ao grupo dos verbos que denotam um processo psicológico1, que frequentemente admitem sujeitos oracionais e selecionam um argumento com papel de experienciador (que, neste caso, corresponde ao papel desempenhado pelo constituinte «ao aluno», que tem a função de complemento indireto).

Disponha sempre!

 

1. Para mais informações sobre estes verbos, cf. Barbosa e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1920 – 1922.

Pergunta:

Gostaria de saber, por favor, se o pronome oblíquo átono o está correto na seguinte frase:

«Não queria discutir minhas reflexões. Na verdade, ainda não sei se o quero.»

Estaria correto omiti-lo, de acordo com a norma culta, como normalmente fazemos na linguagem coloquial? Se puderem me explicar, eu ficarei agradecido.

Muito obrigado pela ajuda.

Até mais.

Resposta:

O recurso ao pronome neutro o1 na frase em apreço é correto.

Este pronome, tal como os pronomes demonstrativos neutros isto, isso, aquilo, tem a capacidade de retomar o conteúdo proposicional expresso por um sintagma verbal colocado antes na frase ou numa frase anterior. É este o processo que tem lugar nas frases apresentadas, como se observa em (1):

(1) «Não queria discutir minhas reflexões. Na verdade, ainda não sei se o quero.» = «Não queria discutir minhas reflexões. Na verdade, ainda não sei se quero discutir minhas reflexões

Não obstante, é também correto o uso da construção com elipse, ou seja, com omissão do pronome neutro, sendo que, neste caso, o interlocutor procede à reconstrução do constituinte omitido:

(2) «Não queria discutir minhas reflexões. Na verdade, ainda não sei se quero.»

Disponha sempre!

 

1. Este pronome é também considerado demonstrativo por alguns gramáticos. É o caso de Celso Cunha e Lindley Cintra in Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 340.

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