Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Há uma campanha recente cuja apresentação levantou algumas dúvidas de análise, cujo link [está aqui]. O texto linguístico é:

«Óbidos Vila Natal»; «Das 18h00 de 22 de Novembro/ Às 18h00 de 24 de Novembro, 3,50/ Bilhete/ Campanha Especial Natal» (texto em destaque). «Compra mínima de 4 bilhetes e máxima....» (letras mais pequenas).

Ora, considero o texto «Óbidos Vila Natal» uma marca, com um logótipo respetivo, e o restante texto em destaque o slogan. O texto em letras mais pequenas será a argumentação.

Há quem considere o texto «Óbidos Vila Natal» como um slogan. Estará correto? Para confirmar a minha opinião, verifico que existem notícias com o título «Já há bilhetes para o Óbidos Vila Natal». Portanto, este evento amplamente conhecido é, a meu ver, uma marca, que anualmente apresenta diferentes frases apelativas, ou seja, slogan.

Grata pela atenção.

Resposta:

O cartaz em questão visa não a promoção direta do evento «Óbidos, Vila Natal», mas antes a divulgação de uma campanha associada à venda de bilhetes. Tem, portanto, um intuito publicitário muito direcionado.

O cartaz da campanha é composto pelos seguintes elementos: uma imagem; a marca («Óbidos, Vila Natal») e um texto informativo sobre a campanha (com indicação dos preços e das datas). Este último texto informativo pode também ser entendido como tendo uma orientação argumentativa, na medida em que pretende veicular a ideia de que os preços praticados são vantajosos, pelo que deverão ser adquiridos.

Para concluir, será importante referir que os atuais modelos de cartaz publicitário são muito diversificados, pelo que nem sempre incluem todos os elementos considerados tradicionalmente, como é o caso do texto argumentativo. Com alguma frequência, este último não é apresentado, devido ao poder persuasivo da imagem, do slogan e da própria marca.

Disponha sempre!

 

 

Cf. Doze deliciosas palavras deste Natal +  Els Caganers: a mais estranha tradição de Natal da Catalunha + 

Pergunta:

As construções "Fiz-lhe perder tempo" (=Fiz perder tempo a si, ao senhor) e "Fi-lo perder tempo" (=Fiz o senhor perder tempo) estão ambas correctas?

Resposta:

As construções «Fiz-lhe perder tempo» e «Fi-lo perder tempo» estão ambas corretas.

Os verbos causativos (como fazer ou deixar) ou os verbos de perceção (como ouvir ou ver) admitem vários tipos de construção: 

(i) a elevação do sujeito para objeto

Em algumas situações, os verbos causativos ou de perceção selecionam como complemento direto uma oração (subordinada completiva), que pode ser infinitiva. Nesta situação, e se atentarmos nas frases apresentadas pelo consulente, a orações que estão na sua base da formação serão: 

(1) «[Eu fiz] [o senhor perde tempo].»

Quando a oração subordinada tem o verbo no infinitivo, o seu sujeito passa a complemento direto do verbo da oração subordinante, o que fica patente no facto de o pronome que substitui o sujeito assumir a forma acusativa, ligando-se ao verbo principal. Este fenómeno designa-se elevação do sujeito para o...

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Das dificuldades de comunicação com os jovens

Os modismos são típicos da forma de falar dos jovens e, por vezes, dificultam a comunicação com os adultos. Uma reflexão bem-humorada por Carla Marques

Pergunta:

Na frase «ergueu os olhos para o céu», qual a função sintática de «para o céu»?

Obrigada.

Resposta:

O constituinte «para a céu» desempenha, na frase apresentada, a função sintática de modificador do grupo verbal.

De acordo com o Dicionário Houaiss, o verbo erguer é transitivo direto ou pronominal. No caso particular da expressão «erguer os olhos», com o sentido de “voltar para cima o olhar”, o verbo tem uma construção transitiva direta. Deste modo, o grupo preposicional «para o céu» não é um argumento do verbo, ou seja, não é pedido por este para completar o seu sentido, pelo que pode ser omitido da frase sem comprometer a semântica do verbo ou a gramaticalidade da frase. 

Desempenha, portanto, a função de modificador do grupo verbal.

Disponha sempre!

Pergunta:

Na frase «A Internet é, a meu ver, uma fada que, com um clique, nos faz girar pelo vasto mundo», no caso de «faz girar», o verbo fazer é verbo principal ou auxiliar com valor modal?

Obrigado!

Resposta:

A frase apresentada inclui três orações:

(1) «A Internet é, a meu ver, uma fada»

(2) «que, com um clic, nos faz»

(3) «girar pelo vasto mundo»

As orações «que, com um clique, nos faz girar pelo vasto mundo» incluem o verbo fazer, um verbo causativo1 que pode ser construído com uma oração subordinada completiva de infinitivo, que denota a situação causada. Por essa razão, na frase em análise, fazer é um verbo principal transitivo direto e girar um verbo principal intransitivo, funcionando, cada um, no interior da sua oração.