Pergunta:
Estive lendo estes dois artigos em O Globo e na agência de notícias Alma Preta.
Em ambos, foi levantada a questão de o sentido original de algumas palavras não ser mais respeitado. Daí, a dúvida: devemos levar isso a sério realmente, se a maior parte das palavras troca de sentido com o passar dos tempos?
É porque, em um artigo, dizem que foram deturpados os sentidos originais das palavras aniversário e obra-prima. Já no outro, dizem que foi deturpado o sentido original da palavra índio! Mas não é bem comum que palavras passem por mudanças um tanto quanto radicais e extremas, sejam para o bem, sejam para o mal? Vejam o caso da palavra desaforo, por exemplo, na página Origem da Palavra!
Pois muito bem, que palpites vocês próprios têm disso tudo aí de verdade?
Por favor, muitíssimo obrigado e um grande abraço!
P.S.: por falar em aniversário, percebi que vocês fizeram 25 anos de existência enquanto site. E eu também faço anos no dia 29 de janeiro. Bem legal poder fazer anos! Não é verdade isso?
Resposta:
Na verdade, os estudos de história da língua mostram que a evolução das palavras através dos tempos é marcada por uma transformação mais ou menos acentuada dos seus sentidos. Se há palavras que conservam alguns dos traços de significação originais, que possuíam em latim ou noutras línguas, outras sofreram profundas evoluções no que aos seus sentidos diz respeito. Exemplificando este fenómeno, Mário Eduardo Viaro, professor da Universidade de São Paulo, aponta vários casos de evolução dos significados1:
(1) cara é usado no português do Brasil com o significado de «pessoa»
(2) pessoa encontra a sua origem em persona, que significava «máscara»
(3) testa significava originariamente «vaso, telha, caco»
A língua é uma entidade dinâmica que está em constante evolução e transformação e esse é um dos traços que a caracterizam mais profundamente. Basta olhar um pouco para trás no tempo e perceber como ela era atualizada de forma diferente daquilo que acontece atualmente.
Em nome do Ciberdúvidas, agradecemos e retribuímos a nota de parabéns que nos deixa.
Disponha sempre!
1. Mário E. Viaro, "História das palavras: etimologia" [disponível aqui].