Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sempre que trazemos para a oralidade uma data qualquer, colocamos o do para fazer referência ao mês. Por exemplo: 25/03/2010 dizemos «vinte e cinco do três de dois mil e dez», mas algumas criaturas falam «vinte e cinco dos três». É possível falar das duas formas?

Resposta:

«Vinte e cinco do três» é o mesmo que dizer «vinte e cinco do mês três», ou seja, «vinte e cinco de Março». Assim, como a palavra mês fica subentendida, diz-se «vinte e cinco do três...», e não «vinte e cinco dos três...».

Pergunta:

Gostaria de saber a origem da palavra bagunça.

Grata.

Resposta:

O substantivo (nome) bagunça é «prov[avelmente] [de] orig[em] expressiva; a ac[e]p[ção] 1 [«máquina de remover aterro»] pode ter gerado as demais; ver bagunç-». O elemento de composição bagunç- é «antepositivo, do port[uguês] bagunça, de prov[avelmente] orig[em] expressiva; ocorre nos seg. vocábulos, todos do sXX: abagunçado/bagunçado, abagunçador/bagunçador, abagunçar/bagunçar, bagunçada, baguncear e bagunceiro».

Além de regionalismo do Brasil, com a acepção de «máquina de remover aterro», bagunça ainda é regionalismo do Brasil, de Angola e de Moçambique, de uso informal, e quer dizer «falta de ordem; confusão, desorganização», como por exemplo na frase «este quarto está uma b[agunça]». Ainda como regionalismo do Brasil de uso informal, é «farra ruidosa; baderna, bagunçada», a exemplo de «o professor faltou, e os alunos estão fazendo a maior b[agunça] na sala».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Cf. Glossário de moçambicanismos, recolhido pelo tradutor e professor português Vítor Santos Lindgaard

Pergunta:

Qual a forma correcta de escrever a seguinte palavra no português de Portugal: "vectorizar", ou "vetorizar"?

Obrigada.

Resposta:

Em Portugal, escreve-se vectorizar, pela ortografia antiga (ainda em vigor), e vetorizar, pela ortografia nova. Trata-se de verbo da informática, e significa «reproduzir tecnologicamente (uma imagem), convertendo-a num conjunto de traços definidos por coordenadas e equações matemáticas» [in Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].

Pergunta:

Gostaria de saber a origem da palavra colecta (ou coleta) e seu significado.

Obrigada.

Resposta:

A palavra colecta deriva do «lat[im] collecta,ae, "cota-parte, coisas coligidas, colheita", der[ivação] de collectus,a,um, part[icípio] pas[sado] do v[erbo] colligĕre, "reunir, juntar, apanhar", por via erud[udita]; c[om]p[are com] div[er]g[ente] vulg[ar] colheita; (...) ; f[orma] hist[órica] 1390 collecta, sXV colecta». Significa «ato ou efeito de colher; recolhimento, arrecadação»; «importância que se paga de imposto»; «cota para despesa comum ou para obra pia ou beneficente» e, como regionalismo do Brasil, «peditório com idêntica finalidade». Trata-se ainda de «ato de colher ou recolher (produtos, elementos, amostras etc.) para estudo, análise, exame etc.» Finalmente, também é termo eclesiástico usado «na missa, [tratando-se de] oração que precede a epístola».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Será correcto em português de Portugal utilizar-se enricar, ou deveremos utilizar enriquecer?

Resposta:

Deveremos utilizar enriquecer porque é a forma preferível, mas enricar também é um termo correcto. Com efeito, o Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, regista o verbo enricar (de en- + rico + -ar), mas remete-nos para enriquecer (de en- + rico + -ecer).

Igualmente, o Dicionário Eletrónico Houaiss (brasileiro) prefere o termo enriquecer, embora registe os dois verbos.

Enriquecer significa «fazer ficar ou ficar rico» e, em sentido figurado, «tornar mais belo; ornar, enfeitar, abrilhantar» (ex.: «o vestido de seda enriquecia-lhe a figura») ou «tornar nobre; enobrecer» (ex.: «boas ações enriquecem a vida»).