Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que me informassem se há alguma designação correta, em português, para o termo "bibliopaper".

Obrigada.

Resposta:

A palavra "bibliopaper", que é usada como nome de uma atividade ou estratégia pedagógica («pesquisa bibliográfica organizada na biblioteca escolar como um concurso em que os alunos participam respondendo a uma lista de perguntas-enigma»), não existe em inglês, nem se encontra registada em francês, italiano ou espanhol, o que leva a supor que é – talvez surpreendentemente – uma criação de falantes do português de Portugal (também não se encontra no português do Brasil). No Ciberdúvidas, já se falou de "pedipaper", que tem a mesma estrutura, integrando o elemento de composição paper, de origem inglesa. Em lugar de "bibliopaper", poderia sugerir-se «pesquisa bibliográfica», mas esta é uma expressão a que falta a conotação de divertimento que se associa a "bibliopaper". Adaptando paper à grafia portuguesa, obter-se-ia "pâiper", que também não parece especialmente aliciante quando transposto para a palavra em questão: "bibliopâiper". Em suma, não se encontra palavra capaz de substituir "bibliopaper", que é forma discutível, mas que parece ter-se tornado corrente no contexto da motivação escolar.

Pergunta:

Antes de mais, muitos parabéns por este espaço, pelo rigor, pela persistência, pela presença.

Gostaria de saber se o termo alumni é corretamente utilizado por empresas para se referirem a antigos colaboradores, como, por exemplo, [se encontra em certo] site, ou apenas poderá ser usado por instituições de ensino.

Obrigado.

Resposta:

Agradecemos as palavras de apreço que nos dirige.

O uso do termo latino alumnus («aluno») e do seu plural alumni, para fazer referência a antigos alunos de uma instituição de ensino, é um anglicismo que não se recomenda em português. A expressão mais corrente continua a ser «antigos alunos». Quanto ao emprego de alumni para referir antigos colaboradores de uma empresa, trata-se efetivamente de uma possibilidade da língua inglesa que já está contemplada, por exemplo, pelo dicionário Merriam-Webster e pelo McMillan Dictionary (ver também artigo em inglês na Wikipedia). É esta uma possibilidade que ainda menos se aceita em português.

Pergunta:

Na frase «Carinhosa, a avó mostrou o álbum de fotografias à neta», qual a função sintática desempenhada pela palavra carinhosa?

Obrigada.

Resposta:

Trata-se de um aposto, embora não seja um exemplo típico.

No âmbito da gramática tradicional e mesmo no quadro do Dicionário Terminológico, destinado a apoiar o ensino da gramática na escola básica e secundária em Portugal, os apostos são sempre exemplificados com grupos nominais que ocorrem depois do núcleo do grupo nominal de que fazem parte, como a seguir se apresenta, adaptando a frase em questão:

1 – «A avó, mulher carinhosa, mostrou o álbum de fotografias à neta.»

Contudo, a Gramática do Português, da Fundação C. Gulbenkian (2013, p. 1111), contempla a possibilidade de o aposto ocorrer em posição pré-nominal, tal como acontece com adjetivos pré-nominais com a função de modificadores do nome; por exemplo:

2 – «A carinhosa avó mostrou o álbum de fotografias à neta» [o adjetivo pré-nominal é um modificador].

3 – «Carinhosa, a avó mostrou o álbum de fotografias à neta» [o adjetivo é um aposto].

A Gramática do Português faz este paralelo, quando discute a possibilidade de o aposto ocorrer antes de um grupo nominal que não inclua determinante; de qualquer modo, esta discussão acaba por evidenciar que os apostos podem ser pré-nominais, conforme se diz na fonte consultada:

«Quando o adjetivo é um aposto [...], pode ocorrer mesmo quando um nome próprio não é especificado pelo artigo: cf. apressada, Maria saiu de casa de manhã cedo ou Maria, apressada, saiu de casa de manhã cedo. [...]»

Esta citação permite, portanto, concluir que, pelo menos, neste tipo de descrição gramatical, um caso como o da ocorrência de «carinhosa» na frase em causa é classi...

Pergunta:

Como se pronuncia este apelido, “Bívâr”, ou “Bívár”?

Parabéns e muito agradecido pelo excelente trabalho e serviço público.

Resposta:

Regista-se o nome Bivar com esta grafia, no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves. Desta grafia, depreende-se que a pronúncia do apelido (sobrenome) corresponde a "bivár", ou seja, o nome mencionado é uma palavra aguda, e o a da última sílaba (que é tónica) é aberto. Há, no entanto, a referir a variante Bívar, cujo a, embora pronunciado com oscilações, é preferencialmente aberto.

Sobre o apelido (sobrenome) Bivar, escreve D. Luiz de Lancastre e Távora, no seu Dicionário de Famílias Portuguesas (Lisboa, Quetzal Editores, 2010, págs. 104-105):

«A esta família, cujo nome é de raízes toponímicas, atribuem os genealogistas antiquíssimas e nobilíssimas origens, pois que os fazem provir de D. Fruela, rei das Astúrias no século VIII, dizendo que o fundador da família propriamente dita dos "de Bivar" seria o lendário Ruy Díaz de Vivar, cognominado El Cid Campeador, de quem se dizem descender os Bivares portugueses e de Castela, se bem que para tanto não existam as menores provas documentais. Ignora-se, aliás, em que época aproximada se instalaram no nosso país alguns desses Bivares [...].»

Pergunta:

"Folheável" não existe? Exemplo: «O codex veio substituir o volumen, em forma de rolo. Era um objeto já "folheável"...»

Obrigada.

Resposta:

O adjetivo não está dicionarizado, mas é possível e está bem formado, pelo que o seu uso não pode ser considerado incorreto. Trata-se de um derivado do tema do verbo folhear.