Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é o plural de vígil?

 

Muito obrigada.

Resposta:

Como todos os substantivos e adjetivos acentuados na penúltima sílaba (graves ou paroxítonos) e terminados em -il (p.ex. réptil e fácil), o adjetivo vígil, usado nas aceções «que está vigilante» e «que está desperto, acordado» (cf. Dicionário Houaiss), tem o plural em -eis: vígeis (cf. idem e Dicionário Priberam da Língua Portuguesa; ver também Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1984, pág. 186). Recorde-se que os substantivos e adjetivos agudos (ou oxítonos) terminados em -il têm o plural em -is: barril/barris, vil/vis (cf. Cunha e Cintra op. cit.).

Pergunta:

Precisava de saber se ensino é hiperónimo de matemática ou se é disciplina. 

Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta:

A palavra disciplina é hiperónimo de Matemática, no contexto das disciplinas possíveis na constituição de um currículo escolar. Trata-se, portanto, da designação genérica de todos os cursos dedicados a vários ramos do conhecimento, enquadrado pelo sistema escolar. Note-se que do hiperónimo para os vocábulos mais específicos, isto é, para os hipónimos, há uma transferência de propriedades semânticas: Matemática, História e Biologia são disciplinas (cf. hiperónimo e hipónimo no Dicionário Terminológico).

Pergunta:

Recentemente surgiu uma dúvida relativamente à forma como se designam os animais invertebrados de corpo mole. Para mim, sempre se chamaram moluscos, mas têm insistido comigo que também é válida a designação "molúsculos". Não encontro nenhuma referência a "molúsculos" em dicionários. Gostava de saber se esta forma é válida, ou se se trata de um erro.

Obrigada.

Resposta:

Pode usar molúsculo no sentido de «pequeno molusco» (cf. Dicionário Houaiss e Dicionário de Caldas Aulete).

 

 

Pergunta:

É correto dizer «à superfície das águas do mar»?

 

Resposta:

A  expressão «à superfície de» é uma locução prepositiva correta, que se encontra registada como subentrada de superfície no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, com o significado de «ao cimo de», «à tona de». O Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático (Livraria Chardron de Lello & Irmão, 1985) de Énio Ramalho ilustra igualmente esta locução com a abonação «viam-se detritos do navio à superfície do mar». Por fim, também o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consigna a expressão no verbete relativo à entrada superfície.

Pergunta:

Sabendo de antemão que no Ciberdúvidas este assunto já foi parcialmente tratado, gostaria, no entanto, que me fosse esclarecida esta dúvida: como designar um habitante de/do (?) Laus? Aparentemente, a forma Laos continua a ser amplamente usada, apesar de encontrar aqui no Ciberdúvidas indicações de que esta deveria ser substituída por Laus. Nessa mesma resposta, diz-se ser de evitar a forma "laociano", não se apontando, contudo, nenhuma forma correta alternativa. Será lau um gentílico válido? Ou lausiano? Muito obrigado pelo inestimável esclarecimento.

Resposta:

Laus era a forma que Rebelo Gonçalves defendia no Vocabulário da Língua Portuguesa, publicado em 1966 (manteve-se a ortografia original):

«Laus, etn. m. pl. e top. m. pl. dado que o top., designativo de um país asiático, procede directamente de um etn. m. pl., é impróprio o seu emprego no masc. sing.: dir-se-á correctamente, em acepção toponímica, os Laus, dos Laus, nos Laus, etc., e não, à imitação do fr. Laos (le), o Laus, do Laus, no Laus, etc. Quanto a dever adoptar-se, no uso actual, a forma monissilábica Laus em vez da antiga forma dissilábica Laos (e, por extensão, como adj. e subst. com., a forma lau em vez da sissilábica lao), veja-se o Trat. Ort. p. 135, n. 4: Inteiramente de rejeitar o barbarismo Laocianos (decalque do fr. Laotiens) e, consequentemnte, laociano

Contudo, o certo é que, na atualidade, Laos e Laociano/laociano se impôem de tal modo no uso, que vários recursos normativos registam estas formas, e não as que propunha Rebelo Gonçalves. Assim, o Código de Redação Interinstitucional para a escrita do português na instituições europeias consigna Laos e laociano. O mesmo faz o Vocabulário Ortográfico de Português. Outros vocabulários ortográficos apresentam ainda, a par de laociano, a forma laosiano; são eles o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora (versão impressa), e o VOLP da ABL, seguindo, de resto, os registos de laosiano e laociano que se encontram no Dicionário Houaiss e no Aurélio XXI. De notar que nos referid...