Pergunta:
A esmagadora maioria (mas não a totalidade...) dos especialistas da língua portuguesa condena o uso do neologismo "massivo", justificando que já temos maciço, esta, sim, em português escorreito, a derivação genuína de massa.
No entanto, segundo Conceição Saraiva, "massivo" é legítimo num determinado contexto (v. nota A classificação morfológica de tal), sendo ilegítimo em todas as restantes situações.
Também C. R. (nota Sobre o advérbio de modo maciçamente) faz referência ao uso de "massivo", não como sinónimo de maciço, mas, sim, como «substantivo que representa um conjunto que não é passível de ser dividido em partes singulares que se possam enumerar, contar».
Pergunto então: fará sentido "importar" a palavra para lhe dar apenas o significado restrito descrito pelos dois especialistas citados, sem a aceitar no sentido em que é comummente utilizada? Não poderá também, naquele caso, ser substituída por maciço? Ou então, como em tantos outros casos (até porque já há alguns dicionários que a registam), parar de lutar e aceitar pura e simplesmente a introdução do "massivo" tão do gosto dos nossos jornalistas, que no fundo são os principais responsáveis pela sua generalização?
Há coisas que, por mais que não queiramos, são inevitáveis...
Se até "alcoolémia" e "bué" já vêm registadas nalguns dicionários...
Resposta:
A pergunta levantada pelo consulente parte do seguinte pressuposto: «a palavra importada massivo é incorreta, porque, com ela, se pretende substituir uma palavra portuguesa com tradição que é maciço». Assim é a maneira de ver dos normativistas mais estritos; no entanto, no âmbito de domínios especializados, recorre-se frequentemente à importação de palavras como forma de criar terminologias que não deem azo a ambiguidades. O uso de massivo vai, pois, ao encontro desta necessidade, tendo sobre maciço a vantagem de se referir univocamente ao «substantivo que representa um conjunto que não é passível de ser dividido em partes singulares que se possam enumerar, contar» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).1 Não obstante, diga-se que este uso especializado não tem necessariamente de legitimar as ocorrências de massivo noutros registos, onde se deverá continuar a dar preferência a maciço.
Sobre bué, o facto de se encontrar dicionarizado não equivale a admiti-lo em todos os contextos. Se assim fosse, a palavra poderia ser usada em registo formal, podendo, por exemplo, o presidente da República declarar que a presente crise é «bué difícil», em lugar de «muito difícil» (só o faria excecionalmente, se quisesse adotar um tom jocoso). Assinale-se, aliás, que bué vem classificado como expressão do registo informal ou coloquial, e não como termo aplicável a qualquer registo, conforme se assinala em nota de uso no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e no