Pergunta:
Pelo o que se lê no Aulete Digital, depreende-se que croça (ou crossa, em outra grafia) é palavra que designa o báculo (bastão episcopal) como um todo, isto é, desde a extremidade superior recurvada até a inferior reta. Além disto, em outra acepção e por metonímia, é o nome apenas da parte recurva superior, a qual forma uma espécie de gancho ou espiral.
Pois bem, quando vejo em livros e enciclopédias a referida palavra, parece ser nesse último sentido, pois não raro aparecem junto ilustrações, geralmente fotográficas, mostrando essa parte superior do báculo rica e artisticamente trabalhada, com imagens de santos e símbolos cristãos entalhados no meio da madeira que a forma, ou até mesmo toda ela feita de ouro ou prata, neste caso também com adornos ricos, incluindo pedras preciosas. Daí surgiu-me a dúvida se croça (ou crossa), nesse último significado mencionado no parágrafo anterior, denomina a parte superior do bastão episcopal, somente quando é ricamente confeccionada, ou também quando é simples, tendo somente a voluta, sem enfeite nenhum, como sói acontecer com a maioria dos báculos episcopais, ao menos com os que tenho visto aqui no Brasil.
Quanto a grafia da referida palavra, a tendência dos hodiernos dicionários brasileiros da língua portuguesa parece ser a preferência pela forma crossa, por amor à etimologia imediata, o francês crosse, o qual vem do frâncico, ou germânico, krukkya.
Parece ser coisa certa que crosse é a origem mais próxima da nossa 1. Depreende-se que o termo croça se aplica a toda a parte superior de um báculo ou bastão, seja ela trabalhada ou não, até porque tal uso do termo é feito por metonímia de croça, enquanto designação de um báculo inteiro com a extremidade superior recurvada.
2. É difícil dar uma resposta categórica, porque os dicionários divergem quanto à história da palavra. Se o vocábulo croça, na aceção de «bastão com parte superior recurvada» (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa), foi transmitido ao português pelo castelhano, tem todo o sentido escrever a palavra com ç, porque é este é o grafema que, em meio de palavra, historicamente corresponde à consoante (uma fricativa interdental) que no espanhol moderno é representada por z (cf. caça vs. caza). Se assim for, deve-se notar que, a respeito dos critérios etimológicos da grafia das palavras, nem sempre prevalece o de refletir a fonia ou grafia mais recuadas — também se tem em conta a história da transmissão da palavra. Não obstante, o Dicionário Houaiss dá primazia à grafia crossa, indicando que que croça é forma não preferível; além disso, em nota etimológica, defende-se aí que a palavra, de origem germânica (concretamente, do frâncico), chegou ao português por via do francês.
Em conclusão, não me parece clara a história da transmissão da forma que veio a tornar-se croça/crossa em português. Tr...