Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como no artigo n.º 141 (Pelourinho) ou na recente resposta A grafia de algumas capitais africanas não foi mencionada a grafia em português de Kinshasa, pergunto se não seria mais correcta a sua transliteração, ou seja, "Kinchassa"?

Agradecendo a vossa resposta, aproveito para chamar a atenção para tantos outros vocábulos toponímicos (e onomásticos) que continuam à espera da correcção das suas grafias.

Resposta:

É mesmo Kinshasa a forma consagrada (ver Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora). Não encontro registo de forma mais adequada a uma grafia tipicamente portuguesa; eis duas sugestões: "Quinchasa"  e "Quinxasa".

Pergunta:

Gostava de saber se, no novo acordo ortográfico, foi introduzida a palavra "governância".

Caso não tenha sido, a palavra pode ser utilizada num trabalho académico? Em que circunstâncias?

Obrigada.

Resposta:

Não é função de um acordo ortográfico introduzir neologismos. Pode, no entanto, acontecer que, por via de uma reforma ortográfica, se imponha a necessidade de se publicarem listas de palavras (vocabulários ortográficos) para fixação da grafia das mesmas; neste contexto, pode verificar-se a entrada de novas palavras.

Ora bem, "governância" não é vocábulo registado nas fontes que consultei. Mas dei com governança, quer no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, quer no Dicionário Houaiss. É esta a forma que deve ser usada em todo o tipo de textos, incluindo os académicos.

Pergunta:

Tenho uma dúvida nesta frase:

«Por estar envolvido no processo de reabilitação, o FCOP conseguiu com que a amostra fosse cortada em troços de 0,60 mm de largura e transportada para o CNDP de modo a ser submetida a ensaios de carga.»

A palavra com («conseguiu com que») é descabida? Ou pode ser usada?

Obrigado.

Resposta:

Deve dizer-se e escrever-se «conseguir que». A forma «conseguir "com" que» resulta da analogia com «fazer com que».

Pergunta:

Parabéns pelo vosso trabalho.

Gostaria de saber se se pode usar legitimamente a palavra "tematização" (no sentido de tratar um tema (ou temática), abordá-lo, dissertar acerca dele). Ligada ao verbo "tematizar", não encontro a palavra nos dicionários, embora me pareça intuitiva e bem construída.

Obrigada desde já.

Resposta:

O Dicionário Aulete Digital regista tematização, com o significado de «Colocar, instituir ou abordar como tema (para dissertação, discussão etc.)» (exemplo: «tematizar a situação social», idem). A mesma fonte acolhe também o verbo tematizar.

Pergunta:

Será que existe alguma grafia portuguesa para a capital da República da Macedónia, Skopje? Será "Escópia" uma alternativa, como se vê por vezes escrito?

Obrigado pelo esclarecimento.

Resposta:

Não parece haver uma grafia a que se possa chamar tradicional. É no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, que encontro duas formas: Skopje, que é a romanização da forma original em cirílico (Скопје); e Skopie, que se insere na lógica de aportuguesamento de termos como stresse, do inglês stress. Tais aportuguesamentos são controversos, porque se considera que na tradição ortográfica portuguesa não existe a sequência s + consoante + vogal, devendo esta ser substituída por es + consoante + vogal (estresse); além disso, apesar de, com o Acordo Ortográfico de 1990, a letra k passar a fazer parte do alfabeto português, há grandes restrições quanto ao seu uso. Daí, duas possibilidades: "Escópie", não atestado, e "Escópia", que de facto ocorre em pesquisas no Google; trata-se, de qualquer modo, de formas que não estão legitimadas em dicionários ou prontuários.