Pergunta:
Cada vez mais oiço na rádio e na televisão as mais diversas pessoas – jornalistas, comentadores, políticos, até médicos – dizerem "circuíto", "intuíto" e "fortuíto". Pelo andar da carrruagem, o muito vai passar a "muíto" – sabido, como se sabe, como é o rolo compressor da televisão na propagação do erro!...
Pergunto: a que se deve esta onda arrasadora da prolação tradicional do ditongo ui?
Muito obrigado.
Resposta:
As palavras circuito, intuito e fortuito, a que se junta gratuito, têm todas ditongo decrescente ui, ou seja, têm o mesmo ditongo que se produz e ouve no nome próprio Rui ou no nome comum cuidado.
A pronúncia criticada e criticável consiste em articular o referido par vocálico como ditongo crescente1, como se ouve nos casos de ruído, aluimento ou possuir.
Por que razão ocorre esta alteração? Talvez haja alguma interferência (por analogia) da terminação -ito, forma que ocorre como sufixo de diferentes origens e a marcar diferentes valores, em que o i é núcleo de silaba tónica: conflito, meteorito, arenito. Mencione-se também um caso semelhante, o do nome comum e adjetivo fluido (com ditongo decrescente, como em fui), frequentemente confundido com o particípio passado fluído, do verbo fluir (com ditongo crescente, como em suíno): também dando prioridade a "uí", não raro se ouve «os "fluídos"» em lugar de «os fluidos».
Em todo o caso, não se julgue que a pronúncia em causa constitui novidade no mundo de língua portuguesa. Há dela registo no Brasil, desde há algumas décadas, como atesta um comentário que Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998) dedicou a circuito no Dicionário de Questões Vernáculas (São Paulo, Livraria Ciência e Tecnologia, 1994, 2.ª edição rev...